Presente em lagoas, açudes e áreas úmidas potiguares, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) revela uma fascinante adaptação à vida semi-aquática e desempenha papel essencial na natureza.
🌿 Introdução
🐾 Descrição morfológica
Essas adaptações anatômicas fazem da capivara uma verdadeira especialista em
ambientes alagados — um roedor semi-aquático perfeitamente moldado à vida entre
a terra e a água.
🌎 História natural e comportamento
As capivaras são herbívoras diurnas(mais ativa no final da tarde e início da noite),
alimentando-se principalmente de gramíneas e vegetação
aquática, como capim e aguapés. Sua dieta, no entanto, varia de
acordo com a estação do ano e a disponibilidade de recursos. Durante os
períodos de seca, grandes grupos podem se reunir ao redor das poucas fontes de
água restantes, formando agregações de até cem indivíduos.
A vida social da espécie é intensa e bem organizada. Os grupos, geralmente compostos por 2 a 30 animais, são liderados por um macho dominante, responsável por proteger o território e as fêmeas, onde ele defende o acesso aos recursos. Esse sistema de acasalamento é poligínico, e as interações dentro do bando incluem vocalizações, banhos de lama e longos períodos de descanso coletivo ao sol.
Um aspecto notável da capivara é sua notável tolerância a
ambientes modificados pelo homem. É comum encontrar populações
vivendo em áreas urbanas, como margens de rios canalizados e parques dentro de
grandes cidades. Em São Paulo, por exemplo, grupos prosperam mesmo às margens
dos poluídos rios Tietê e Pinheiros, mostrando a incrível capacidade de
adaptação da espécie.
🌍 Habitat, ocorrência e distribuição
geográfica
A Hydrochoerus hydrochaeris apresenta ampla
distribuição geográfica, ocorrendo em quase toda a América do
Sul, do leste dos Andes até o Uruguai
e Argentina, passando por Colômbia, Venezuela,
Guianas, Peru, Bolívia, Paraguai e, claro, todo
o Brasil.
No território brasileiro, está presente em todos
os estados, incluindo o Rio Grande do Norte,
sendo mais comum nas margens de rios, lagos, açudes e
áreas úmidas de planície. Ela habita praticamente todos os
biomas nacionais — Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata
Atlântica, Pantanal e Pampa — e pode ocupar até savana
sazonalmente alagada, pântanos de mangue e áreas alagadas salobras.
Durante minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado a capivara com maior frequência na faixa costeira, especialmente no litoral sul do RN, em áreas pantanosas, represas e lagos cercados por vegetação típica do bioma Mata Atlântica. Além desses registros litorâneos, também já encontrei evidências de sua presença ao redor de açude em áreas de ecótono-transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, na mesorregião Agreste Potiguar.
Pegada de Capivara em solo úmido as margens de açude em área de transição entre Mata Atlântica e Caatinga Potiguar.
⚠️ Ameaças e grau de risco
A capivara não está ameaçada de extinção em nível mundial de acordo com a
lista vermelha da IUCN, e também em nível
nacional de acordo como o Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de
extinção. Em ambas as avaliações ela foi classificada na categoria “LC”-Menos
Preocupante. Isso significa que não
há evidências atuais de declínio populacional severo, embora a
caça ainda represente a principal ameaça
local em algumas regiões.
Historicamente, a espécie foi amplamente caçada por sua carne
e couro, e entre 1976 e 1979, quase 80
mil peles foram exportadas apenas da Argentina. No Brasil, acredita-se que a
pressão de caça diminuiu com o aumento de criadouros legalizados e
manejo sustentável, mas a prática de abate ainda ocorre em
áreas isoladas, o que deve contribuir para extinções locais.
Além disso, a perda de habitats úmidos
— devido à drenagem, agricultura intensiva e urbanização — pode afetar
populações locais, especialmente em regiões semiáridas. Mesmo assim, em várias
localidades brasileiras há indícios de crescimento populacional,
resultado da grande capacidade de adaptação e da ausência de predadores naturais em zonas urbanas.
Em alguns contextos, o aumento populacional gera conflitos com agricultores,
pois bandos podem danificar plantações de milho e pastagens.
Por isso, órgãos ambientais e pesquisadores estudam estratégias de manejo
populacional e convivência, equilibrando conservação e
controle.
🌿 Importância ecológica
A capivara exerce um papel ecológico fundamental nos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos. Como herbívora de grande porte, ela controla o crescimento da vegetação do entorno das áreas alagadas e da vegetação aquática, além de influenciar a distribuição de nutrientes nas margens de rios e lagoas. Seus excrementos enriquecem o solo, favorecendo o crescimento de plantas e contribuindo para a ciclagem de matéria orgânica.
| Fezes de capivara em trilha no interior da Mata Atlântica as margens de área alagada no Rio Grande do Norte. |
Além disso, é presa natural de grandes predadores, como as onças, a jaguatirica, a
sucuri e a jiboia, sendo elo importante nas cadeias tróficas.
💡 Curiosidades sobre a capivara
· A capivara mantém-se nas proximidades de corpos de água, pois ao sentir-se ameaçada, ela mergulha, ficando submersa por tempo suficiente para escapar.
· Vive em grupos coesos, com forte comportamento social e cuidado coletivo dos filhotes.
·
Seu couro era tão valorizado que impulsionou uma
intensa caça comercial nas décadas de 1970 e 1980.
·
No Brasil, pode ser vista até em parques
urbanos, convivendo com humanos em harmonia surpreendente.
👉Você já avistou capivaras nas lagoas ou rios do Rio Grande do Norte?
Conte nos comentários onde foi e como foi a experiência de observar esse
gigante pacífico da nossa fauna!
A capivara é um exemplo de adaptação e equilíbrio
na natureza. Símbolo de tranquilidade, ela mostra que a
convivência entre fauna silvestre e áreas urbanas é possível — desde que haja
respeito e preservação.
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Referências
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