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domingo, 30 de agosto de 2020

Punaré Thrichomys laurentius (THOMAS, 1904) um roedor exclusivamente brasileiro

Nomenclatura e classificação científica do Punaré

   Mamífero roedor conhecido popularmente como Punaré ou Rabudo, porém seu nome científico é Thrichomys laurentius (THOMAS, 1904). Essa espécie pertence a família Echimyidae(ex.: ratos-de-espinho,ratos-do-bambu) e até recentemente era considerada uma subespécie do gênero Thrichomys(Thrichomys apereoides laurentius).  


Aspectos biológicos do Punaré (Thrichomys laurentius)

    O comprimento do corpo de um indivíduo adulto dessa espécie, tem uma média de 197,7mm(cerca de 20cm), enquanto que seu peso médio registrado foi de 187,4 gramas. De maneira geral em T. laurentius a coloração no dorso é acinzentada, enquanto que no ventre é branca. Assim como os demais representantes do gênero, possui um “anel” de pelos brancos ao redor de cada olho e uma cauda coberta de pelos, mas esta pode  não ser observada em alguns exemplares, pois é facilmente fraturada. A cauda tem como função principal ajudar no equilíbrio do animal durante os saltos. As espécies do gênero Thrichomys constroem seus ninhos com material vegetal em cavidades das rochas, ocos de árvores e até em galerias no solo, onde dão a luz em média 3 filhotes por gestação. O número de ninhadas por ano varia de duas a três, e os novos indivíduos atingem a maturidade sexual entre 7 e 9 meses de vida. No geral, eles se reproduzem com maior frequência entre fevereiro e julho. 


Aspectos ecológicos do Punaré (Thrichomys laurentius)

   T. laurentius é terrestre e semi-arborícola, ou seja, vive tanto no chão como no estrato arbóreo e pode ser observada ativamente durante parte do dia e da  noite, todavia é considerada de hábito mais  crepuscular. Ela alimenta-se principalmente de raízes e frutos, sendo considerada quanto a dieta uma espécie herbívora-frugívora. Vive principalmente em áreas abertas da Caatinga, do Cerrado, nos brejos de altitude e em  áreas de Floresta Estacional Decidual que está associada ao bioma Mata Atlântica. Na caatinga tenho observado com maior frequência em cavidades de formações rochosas, onde ficam abrigados durante maior parte do dia. Seus principais predadores que contribuem para o controle populacional da espécie, incluem por exemplo, os felinos( gato-mourisco, jaguatirica,etc), as serpentes( cascavel e jiboia, etc) e aves de rapina como a Águia-Serrana.

Punaré (Thrichomys laurentius), um hospedeiro de Leishmania e Trypanosoma cruzi


   Estudos tem demonstrado que o punaré(T. laurentius)  tem condições de reter o parasita causador da leishmaniose tegumentar(L. braziliensis) e leishmaniose visceral-calazar(L. infantum), apresentando infecções de longa duração. Portanto, atua como hospedeiro e é um dos principais agentes etiológicos da leishmaniose humana no Brasil (ROQUE et al., 2010). Além disso, outras pesquisas tem revelado que T. laurentius atua como reservatório de Trypanosoma cruzi, causador da doença de chagas , participando nos ciclos de transmissão desse parasita.


Ameaça e distribuição geográfica do Punaré (Thrichomys laurentius)


   O rabudo(T. laurentius)  não está ameaçado de extinção em nível nacional atualmente, de acordo com a última lista disponível no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção(2018). Contudo, sofre ameaça humana, pois é perseguido e caçado(proibido por lei) em grande parte da região onde ocorre, sendo usado na alimentação em algumas comunidades no sertão nordestino. Este roedor é nativo e endêmico para o Brasil, ou seja, só é encontrado nesse país, sendo sua distribuição geográfica  desde o Ceará até a Bahia, além disso foi confirmado recentemente também no norte de Minas Gerais.  Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste Potiguar.

Referências
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