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sexta-feira, 4 de julho de 2014

Beija-flor-tesoura Eupetomena macroura (Gmelin, 1788); Fauna do RN

   Ave conhecida popularmente como Beija-flor-tesoura, beija-flor-rabo-de-tesoura ou tesourão, mas científicamente seu nome é único, Eupetomena macroura. O que significa seu nome científico? do (grego) eu = divindade, deus; e petonemos = sempre sustentado pelas asas, voando; e do (grego) makros = longo, comprido; e ouros, oura = cauda, sendo assim seu nome significa: divindade sustentada pelas asas e que tem a cauda longa ou ave divina com a cauda longa que está sempre voando). Ele pertence à família Trochilidae, essa é a família típica dos beija-flores. A sua vocalização varia de um “Tsak” forte a um chilrear fraco entremeado de “tja-tja-tja”. 

   O beija-flor-tesoura é o maior dos nossos beija-flores. Um indivíduo adulto pesa cerca de 10g e atinge de 15 cm a 19 cm de comprimento, da ponta do bico até a ponta da sua longa cauda bifurcada, que equivale a quase 2/3 do tamanho total. Aliás, essa imensa cauda bifurcada é a sua principal característica. O comprimento da asa é de 72 mm,da cauda 107 mm e do bico 22 mm. 

   Dependendo da iluminação, de longe ele parece todo negro ou de cor azul-marinho, mas em condições perfeitas de iluminação suas cores iridescentes aparecem assim distribuídas pelo corpo: Cabeça, pescoço e parte superior do tórax de um profundo azul violeta; resto da plumagem verde-escuro iridescente. Pequena mancha branca atrás dos olhos; as penas das asas, chamadas rêmiges de cor castanho-escuro; raques das primárias externas alargadas, embora sejam bem menos evidentes que as espécies do gênero Campylopterus; cauda azul-escuro; calções brancos; bico ligeiramente curvado para baixo e preto. Eventualmente apresenta as penas azuladas da fronte tingidas de branco, amarelo, ou de cores diversas, em virtude do acúmulo de pólen proveniente das flores que poliniza. A fêmea é igual ao macho, mas é um pouco menor e mais pálida. Imaturo é igual à fêmea, mas a cabeça é particularmente mais pálida e tingida de marrom.
   Alimenta-se de néctar de flores e também artrópodes (insetos e aracnídeos) que garantem aos beija-flores as proteínas necessárias, absolutamente indispensáveis ao crescimento dos jovens. Pegam insetos em teias de aranha, em frestas de buracos de paredes, em fendas de árvores. É um déspota generalista. Déspota porque ele é dominante sobre qualquer outro beija-flor e os desloca do seu território de alimentação com alto grau de agressividade. Generalista porque ele consegue coletar néctar de praticamente qualquer flor, seja uma minúscula cambará-de-cheiro ou uma enorme flor de pequi, passando por flores de eucaliptos, de goiabeiras, de mangueiras e até a sua preferida flor de malvavisco, sendo importante na polinização de muitas plantas. 

   Na época do acasalamento, o macho faz a corte pairando em pleno voo em frente da fêmea empoleirada. Depois macho e fêmea realizam voos de zigue-zague, ocorrendo voos rasantes do macho sobre a fêmea. O macho separa-se da fêmea imediatamente após a cópula. Um macho pode acasalar com várias fêmeas e com toda a probabilidade, a fêmea também vai acasalar com vários machos. A fêmea é a responsável pela escolha do local e pela construção do ninho. 

   O ninho desta espécie é construído em forma de tigela aberta sobre um ramo mais ou menos horizontal ou em uma forquilha de arbusto ou árvore, a cerca de 2 a 3 metros do solo. Ele é composto por fibras vegetais macias incluindo painas, fiapos de lâminas de xaxim, fragmentos de folhas, liquens, musgo, entre outros, utilizando de líquido (podendo ser saliva, seiva ou néctar regurgitado) que são aderidos extremamente com teias de aranha. 

   Põe de dois a três ovos brancos e alongados nos meses de janeiro e fevereiro. Somente a fêmea incuba os ovos e os filhotes nascem após 15 a 16 dias e são alimentados pela fêmea principalmente com insetos, enquanto o macho defende seu território e as flores com que e alimenta. Os filhotes deixam o ninho com 22 a 24 dias.

   O beija-flor tesoura (Eupetomena macroura) forma leks, ou grandes grupos de machos que cantam em conjunto para atrair o maior número de fêmeas possível para a área. Marco A. Pizo e Wesley R. Silva estudaram leks de beija-flores por 22 meses, observando que os leks ocorrem pouco antes do amanhecer, e o número de machos cantando por manhã variou de seis a 15.
   É freqüentemente o beija-flor mais comum do Brasil centro-oriental. Não costuma ter medo do ser humano, aproximando-se das pessoas para se alimentar nas garrafas com água e açúcar, ou nas flores de seus jardins. É territorialista e extremamente agressivo, principalmente na época da reprodução, quando é capaz de atacar outras aves muito maiores,inclusive gaviões e tucanos e pequenos mamíferos quando se aproximam do ninho. Em algumas épocas do ano quando há menos disponibilidade de néctar, adota uma única árvore, que pode ser um mulungu ou um ipê como a sede de seu território e a defende ferozmente contra qualquer outra ave, principalmente contra outros beija-flores e contra o cambacica ou sebinhos. Ocorrem lutas ritualísticas intraespecíficas em voo em defesa do território. Antes de fazer os voos de ataque, emite um dois estalos rápidos e sai em perseguição. Se o outro beija-flor pousa, fica rodeando-o até esse retomar o voo, escoltando-o para fora do território imaginário. Ágil, mete-se no meio dos arbustos nessas lutas rápidas; chega a acompanhar a fuga do opositor. Nas horas mais quentes do dia, pousa no interior de arbustos ou árvores e pode ficar chilreando longamente. 
   O metabolismo dos beija-flores é considerado o mais acelerado entre as aves. À noite, quando não pode voar, reduz o metabolismo, o coração desacelera, de uma média de 1000 batimentos por minuto para apenas 30.

   Vive em áreas semiabertas, bordas de florestas, capoeiras, cerrados, cerradões, parques e jardins, sendo comum também em ambientes urbanos, como nas grandes cidades. Essa espécie ocorre das Guiana à Bolívia e Paraguai, todo o Brasil, exceto certas regiões da Amazônia. Segundo a Lista Vermelha da União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN), seu estado de conservação atual é pouco preocupante.

   Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, observei essa ave em todas as regiões do território norte-rio-grandense, sendo as últimas observações nos municípios de Campo Redondo, no interior de um rio seco, e em Parnamirim, pousado na fiação da cidade.

Referências

Freire, A. A. 1999. Lista Atualizada de Aves do Estado do Rio Grande do Norte. Natal: Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte-IDEMA. 20 p.

F. Sagot-Martin, GOP. Lista I aves RN-arquipélagos extr. NE Brasil. Táxeus | Listas de espécies. 10/01/2003.

FRISCH, Johan Dalgas&FRISCH, Chistian Dalgas. Aves Brasileiras e Plantas que as Atraem 3ª edição; Ed. Dalgas Ecoltec - Ecologia Técnica Ltda Pág. 214.
LIMA, Pedro Cerqueira. Aves do litoral norte da Bahia. – 1 ed. – Bahia: AO, 2006.

Sick, Helrnut. Ornitologia Brasileira; pranchas coloridas Paul Barruel e [ohn P.O'Neill ; coordenação e atualização José F. Pacheco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.

Sigrist, Tomas, Guia de Campo Avis Brasilis, Avifauna Brasileira. Editora Avisbrasilis, Vinhedo, São Paulo, 2009.

Beija-flor-tesoura. Terra da Gente. Disponível em: http://redeglobo.globo.com/sp/eptv/terra-da-gente/platb/fauna/aves/beija-flor-tesoura/ Acesso em 04 de agosto de 2014.

Tesourão. Disponível em: http://www.avespantanal.com.br/paginas/137.htm Acesso em 04 de agosto de 2014.

Beija-flores despostas, paineiras e baobás. Disponível em: http://www.oeco.org.br/convidados/28231-beija-flores-despotas-paineiras-e-baobas Acesso em 04 de agosto de 2014.

Comportamento de cortejo do beija-flor. Disponível em: http://www.ehow.com.br/comportamento-cortejo-beijaflor-sobre_244035/ Acesso em 04 de agosto de 2014.


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