Ave conhecida popularmente como: Jaçanã, Nhaçanã,
Nhançanã, Nhanjaçanã, Menininho-do-banhado, Aguapeaçoca, Narceja, Cafezinho,
Ferrão, Japiaçó, Casaca-de couro, Japiaçoca, Marrequinha,
Piaçó,Piaçoca,Pia-sol, Asa-de-seda em algumas localidades da região Sul do
Brasil e em algumas regiões da África e da Austrália são conhecidas também como
“Jesus bird”, porque parecem sempre estar caminhando sobre as águas,quando na
verdade estão se deslocando sobre plantas aquáticas. Seu nome em inglês é
Wattled Jacana. Entretanto para a ciência essa ave só tem um nome, Jacana jacana.
A palavra Jaçanã é indígena, de origem tupi “ñaha´nã”, e
segundo Pardal Capoeira Jaçanã significa “ave que possui as patas sob a forma
de nadadeiras, como os patos” e a variação Jaçanan significa “de o que grita
forte”. Essa espécie pertence à família Jacanidae que é representada pelas
jaçanãs, composta por oito espécies de hábitos paludícolas que ocorrem desde a
América, África e Ásia (Hayman et
al. 1986). Representantes fósseis desta
família datam desde o Plioceno e Pleistoceno do Brasil até possivelmente do
Oligoceno (30 milhões de anos) no Egito. Sua manifestação sonora forte e
estridente é "wöt-wöt", que ela emite normalmente com as asas
levantadas como sinal de alarme.
A Jaçanã é uma ave aquática, apesar de não nadar,ela se
locomove sobre plantas flutuantes como ninféias, aguapés, salvínias entre
outras, em busca de alimentos, que são insetos, moluscos, pequenos peixes e
sementes. Vivem aos casais ou em pequenos bandos nos banhados, margens de rios,
brejos, lagos e açudes, ou seja, tem como habitat os ecossistemas aquáticos de
água doce com plantas aquáticas como baronesas, aguapés (Eichhornis
sp.),etc. A Jaçanã possui morfologia e
adaptações especiais para se locomover sobre esses ambientes: pernas compridas,
dedos excessivamente longos e delicados; unhas elásticas e afiladas como
agulha, sendo a do hálux encurvada para cima, medindo mais que o dobro dos
dedos anteriores, auxiliando na distribuição do seu peso, permitindo que se
movimente por sobre as plantas aquáticas com toda exuberância e rapidez necessária,
diferenciando-se de outras espécies que dividem o mesmo território
(PHELPSJUNIOR; SCHAUENSEE, 1979; SILVA,1971; ANTAS; CAVALCANTI; CRUZ,
1988;FERRES, 1992; SICK, 1997).
O tamanho dos
adultos varia de 20 a 25 cm de comprimento, possui colorido vistoso, de
plumagem negra na cabeça, no peito, abdômen e cauda, e um manto
marrom-avermelhado no dorso, no flanco e sobre as asas; na cabeça, possui lobos
membranosos frontais e laterais vermelho-vivo contrastando com o bico
amarelado; as rêmiges são verdes amareladas de pontas negras, sendo exibido
amiúde, e, no encontro, um esporão afiado, de cor amarelada, servindo como
arma, à feição do Vanellus chilensis (Molina 1782) (OSBORNE; BOURNE, 1977;
OLROG, 1984; ANTAS; CAVALCANTI; CRUZ, 1988; SICK, 1997). Assemelha-se à Jacana
spinosa, com a qual ocorre em simpatria
na Costa Rica e Panamá, podendo formar híbridos (Jenni e Betts 1973); porém
distingue-se por apresentar os lobos membranosos lateral, sendo o frontal,
bipartido (Jenni e Betts 1973, Hayman et al. 1986). Os filhotes são nidífugos, recobertos por uma
plumagem de coloração castanha claro, com faixas escuras em seu dorso, sendo
substituída, na fase juvenil (vê foto), por uma coloração clara, com faixas
escura e branca amarelada, pelo restante do corpo, e com sobrancelhas brancas
compridas e uma listra negra atrás dos olhos (FERREIRA, 1984; ANDRADE, 1993).
Existe dimorfismo sexual, pois as fêmeas têm o porte maior e lobos membranosos
mais vermelhos em relação aos machos (NUNES; PIRATELLI, 2005). As fêmeas adultas podem pesar cerca de 160 gramas enquanto que os machos pesam aproximadamente 70 gramas.
Vive aos casais em pequenos lagos ou formam pequenos
grupos quando ocorre em ambiente mais extenso. Nesta espécie, a exemplo do que
ocorre em outros membros da família Jacanidae (Butchart et al. 1999a, Tarboton
1992, Mace 2000, Jenni e Betts 1991), a fêmea exibe comportamento poliândrico e
reversão no papel sexual, na qual torna-se o sexo dominante e defende haréns
com três a quatro machos, os quais assumem todo o cuidado parental (Osborne e
Bourne 1977; Osborne 1982; Ferreira 1984; Emlen et al. 1989; Emlen e Wrege 2004a,b).
Dessa forma, uma fêmea se acasala, normalmente, com 2 ou até 4 machos e defende
um território. O ninho é feito pelo
macho sobre folhas de ninféias. Após a postura de quatro ovos
castanho-amarelados, densamente manchados, o pai expulsa a fêmea dos arredores
do ninho para incubá-los,mas se posteriormente outra fêmea aparecer destrói os ovos e o macho não reage por amnésia e no final acaba acasalando com a nova fêmea. Para protegerem o ninho, chegam a fingir estar com
uma perna quebrada debatendo-se como se não pudessem voar
(despistamento). Os filhotes são nidífugos, andando entre as plantas e
mergulhando logo após a eclosão. Fora da época de reprodução que normalmente ocorre de Novembro a Abril, associam-se em
bandos para migrar.
Apesar de ser considerada uma espécie relativamente social,
em alguns ambientes ou épocas do ano, defendem seus territórios contra outras
jaçanãs voando diretamente ao encontro do intruso, emitindo seu peculiar
chamado, como uma risada fina e longa. Ao pousarem, para intimidar o invasor,
mantêm as asas abertas e esticadas para o alto, destacando as penas longas,
amarelas, das asas e o esporão amarelo do encontro das asas. Através dessas
atitudes, intimidam a ave invasora. Mas as vezes a invasora não
desiste e consequentemente ocorre agressão corporal.
A jaçanã (Jacana jacana Linnaeus,1766)
tem ampla distribuição geográfica nas Américas, ocorrendo a partir das Guianas
até a Venezuela, Colômbia, Brasil, Bolívia, Argentina, Equador, Peru e Chile
(Meyer de Schauensee 1982). Durante as minhas excursões
pelo estado do Rio Grande do Norte, visualizei a Jaçanã (Jacana jacana) nos
seguintes municípios: Parnamirim,as margens de um riacho em 2012-2013, Macaíba, em
um açude no ano de 2009 e 2013, Monte Alegre,na lagoa Barrenta em 2011 e 2012,Baía Formosa,na RPPN Mata Estrela na lagoa de Coca Cola em 2013, Felipe
Guerra, em um rio em 2012.
Seu estado de conservação atual é pouco
preocupante.
O Que podemos fazer para que a Jaçanã não entre na lista
de animais ameaçados de extinção? Conscientizar a sociedade a respeito da sua
importância ecológica nos ecossistemas de água doce, pois a Jaçanã através da
predação de pequenos animais controla o crescimento populacional desses e serve
de presa a animais maiores como, por exemplo, jacarés. Orientar assim, as
pessoas para não caçarem essa ave assim como outros animais silvestres, não capturarem,
manipularem ou matarem essa espécie (e as outras) a não ser que esteja
autorizado por órgãos responsáveis por cuidarem dos nossos recursos naturais
como, por exemplo, o IBAMA. Além disso, devemos ter o cuidado de proteger a
“sua casa”, os ambientes de água doce, que também é o habitat de diversas
outras espécies e são a nossa principal fonte de água potável e de onde
retiramos alguns de nossos alimentos como, por exemplo, peixes e crustáceos.
A Jaçanã é uma ave tão comum no Brasil que curiosamente é
nome de praça em Belo Horizonte(MG)rua na cidade de Sarandi(PR), avenida e
bairro na cidade de São Paulo(SP), onde ficou célebre na canção Trem das Onze
de Adoniran Barbosa. Seus versos dizem: Não posso ficar nem mais um minuto com
você / Sinto muito, amor, mas não pode ser. / Moro em Jaçanã... se eu perder
esse trem, que sai agora às onze horas / Só amanhã de manhã (...).
É nome de cidade no estado do Rio Grande do Norte,
estando esta localizada na Microrregião da Borborema Potiguar distante 147
quilômetros da capital do estado. Também existe música a respeito da Jaçana,
como por exemplo, “O Canto do Jaçanã” da autoria de Cascatinha & Inhana que começa assim:
Lá no meu sertão,
Bem distante,
Todos os dias de manhã,
Ouve-se o canto da Jaçanã.(...) e termina com seguintes estrofes:
Bem distante,
Todos os dias de manhã,
Ouve-se o canto da Jaçanã.(...) e termina com seguintes estrofes:
Há uma lenda no meu sertão,
Que o canto da Jaçanã,
Traz saudades e paixão.
Quando eu ouço aquele refrão,
Os meus olhos choram de emoção,
É a saudade no meu coração.
Que o canto da Jaçanã,
Traz saudades e paixão.
Quando eu ouço aquele refrão,
Os meus olhos choram de emoção,
É a saudade no meu coração.
Classificação
Científica:
Reino: Animalia; Filo: Chordata; Classe: Aves; Ordem:
Charadriiformes; Subordem: Scolopaci; Família: Jacanidae; Gênero: Jacana;
Espécie: Jacana jaçanã (Linnaeus, 1766).
Referências:
Nunes ,Alessandro Pacheco & Piratelli, Augusto. Comportamento da jaçanã (Jacana jacana
Linnaeus, 1766) (Charadriiformes, Jacanidae) em uma lagoa urbana no município
de Três Lagoas, Mato Grosso do Sul, Brasil
. ATUALIDADES ORNITOLÓGICAS
N. 126 – JUL/AGO DE 2005 – PÁG. 17.
Santos, Thiago Moura& Leite, Gabriel Augusto& Monteiro, Alberto Resende. COMPORTAMENTO DE DEFESA DA JACANA JACANA (LINNAEUS, 1766) (CHARADRIIFORMES, JACANIDAE), EM ÁREA DE RECUPERAÇÃO AMBIENTAL NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS, SÃO PAULO, BRASIL. Revista Univap, São José dos Campos-SP, v. 18, n. 31, jun.2012. ISSN 2237-1753.
Charadriiformes,Aves Aquáticas. Disponível em: http://www.uece.br/uece/zootecnologia/aves_aquaticas/charadriiformes.pdf Acesso em: 18/12/2012.
Jaçanã ou Cafezinho(Jacana jacana),família Jacanidae. Disponível em: http://www.faunacps.cnpm.embrapa.br/ave/jacana.html Acesso em: 18/12/2012.
Reprodução das Aves. Disponível em: http://www2.ibb.unesp.br/Museu_Escola/Ensino_Fundamental/Animais_JD_Botanico/aves/aves_biologia_geral_ninhos.htm Acesso em: 18/12/2012.
Capoeira, Pardal. Dicionário Tupi Guarani. Disponível em:http://www.cienciasdacapoeira.com.br/dicionario-tupi-guarani.html Acesso
em: 18/12/2012.
Aves na Música. Disponível em: http://www.ceo.org.br/musica/musica.htm Acesso em: 18/12/2012.
Jaçanã(Distrito de São Paulo). Disponível em:http://pt.wikipedia.org/wiki/Ja%C3%A7an%C3%A3_%28distrito_de_S%C3%A3o_Paulo%29 Acesso em: 18/12/2012.