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domingo, 11 de maio de 2014

Borboleta-estaladeira Hamadryas amphinome (Linnaeus 1767); Fauna do RN

  Borboleta conhecida popularmente como Borboleta-estaladeira, visto que quando voam as asas dos machos produzem estalidos secos, Estaladeira-vermelha (a parte interna inferior de suas asas é de coloração vermelha),Borboleta-assenta-pau, mas seu nome científico é Hamadryas amphinome. O som é produzido durante o voo da borboleta a partir da vibração de um par de hastes espinhosas na ponta do abdômen contra cerdas no clasper anal. Apesar de só os indivíduos machos produzirem o som, ambos os sexos detectam o mesmo, através de suas asas cobertas de membranas que vibram em resposta ao som, estimulando as terminações nervosas. A finalidade do som ainda não é conhecida. Supõe-se, que eventualmente impeça os machos concorrentes de ocupar o mesmo território, ou poderia atuar como um gatilho para iniciar a primeira resposta de uma fêmea durante o namoro.
  Suas as asas são de cor preta aveludada com um brilho azul e um padrão de manchas azuis brilhantes. A cor azul produzida por difração de luz a partir de saliências prismáticas microscópicas na superfície das escalas da asa. A cor varia um pouco de acordo com a qualidade, intensidade e ângulo da luz, de modo que pode aparecer como o céu azul, turquesa ou mesmo esverdeada em matiz.

  Hamadryas amphinome é comumente vista em troncos de árvores ou arbustos a cerca de 2m de altura, adotando uma postura de cabeça para baixo, com as asas achatadas contra a casca. As borboletas vão se aquecer nesta posição por longos períodos para esperar companheiros em potencial. Tanto indivíduos machos como fêmeas passam a maior parte de seu tempo se aquecendo no alto de troncos de árvores, muitas vezes de 10 metros ou mais acima do solo. Curiosamente sentam-se lá por horas com as asas abertas, sempre viradas para baixo mantendo um olhar atento para potenciais companheiros e ou intrusos. Às vezes eles descem e se aquecem mais em baixo, a uma altura de apenas um par de metros, mas a presença da menor perturbação imediatamente voa de volta para o alto da árvore. Eles permanecem lá até que a ameaça desapareça, e, em seguida, descem o tronco da árvore saltando através de uma série de vôos curtos, deslocando-se a pequena distância de cada vez, até depois de meia hora ou assim eles terem retomado a sua posição original.
  Machos de H. amphinome defendem territórios de acasalamento. Os residentes são maiores e possuem asas mais desgastadas do que os intrusos. Os estalos figuram notavelmente durante as interações, porém sem um papel definido (Lourenço, Victor T.,2011).
  Após o acasalamento dos indivíduos adultos, a fêmea deposita seus ovos de cor branca, em cadeias de 5-10 em cima uns dos outros, com 30-100 ovos, pendurados em baixo de uma folha. As larvas(lagartas) que saem dos ovos, quando no ápice do seu crescimento são de cor negras, com marmoreio amarelo ao longo das costas, e têm espinhos pretos multi-ramificados, exceto para aqueles localizados no meio que são de cor laranja. Elas em grupos se alimentam de folhas da espécie vegetal  Dalechampia scandens (Euphorbiaceae).  A crisálida se parece muito com uma pequena folha murcha. Ela varia da cor verde a marrom escuro, e tem um par de chifres na cabeça e fica suspensa em uma folha ou caule, sofrendo transformações, a partir da qual se originará um indivíduo adulto alado.
  A borboleta-estaladeira(Hamadryas amphinome)  se mantém ativa desde o nascer ao pôr do sol, e raramente é vista longe de troncos de árvores ou arbustos. Ela se alimenta principalmente de frutas em decomposição.
  Hamadryas amphinome é encontrada em habitats de floresta tropical secundária ou perturbados, em altitudes entre cerca de 0-1500 metros. Também ocorre em florestas caducifólias secas ou úmidas, onde muitas vezes pode ser abundante.  Essa espécie encontra-se distribuída desde o México até o Peru.
  Durante minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, observei essa espécie em vários municípios,como Parnamirim,Monte Alegre,São José de Mipibu,Nísia Floresta, na maioria das vezes em área de pomares, principalmente em troncos de mangueiras, às vezes juntamente com Hamadryas februa e Hamadryas feronia.

Classificação científica:  
Reino: Animalia; Filo: Arthropoda; Classe: Insecta; Ordem: Lepidoptera; Família: Nymphalidae; Gênero: Hamadryas Hübner 1806 ; Espécie: Hamadryas amphinome (Linnaeus 1767)

Referências
Victor Toni Lourenço. DEFESA DE TERRITORIOS DE ACASALAMENTO EM HAMADRYAS AMPHINOME LINNAEUS (LEPIDOPTERA; NYMPHALIDAE). X Congresso de Ecologia do Brasil, 16 a 22 de Setembro de 2011, São Lourenço – MG.

Hamadryas amphinome. Disponível em: http://www.learnaboutbutterflies.com/Amazon - Hamadryas amphinome.htm Acesso em 10 de maio de 2014.      
               

Hamadryas amphinome. Disponível em: http://eol.org/pages/166283/hierarchy_entries/55717355/overview Acesso em 10 de maio de 2014.  

domingo, 4 de maio de 2014

Quero-quero Vanellus chilensis (Molina, 1782); Fauna do RN

   Ave conhecida popularmente como Quero-quero,Téu-téu,Terém-terém,Espanta-boiada,Chiqueira,Atalaia-dos-campos,gaivota-preta,téu-téu-da-savana. Mas pra ciência seu nome é Vanellus chilensis, que significa: do (latim) vanellus = diminutivo de vannus = abibe, (nome popular de uma ave passeriforme que habita Portugal); e chilensis = referente ao pais do Chile, originário do Chile. Significando assim Pequena Abibe do Chile ou abibe-do-sul chilense.
O Quero-quero é uma ave de porte médio,asas longas e bico reto. Na cabeça possui um "topete característico",que são umas penas longas(penacho) negras,finas, saindo da nuca, e base branca da cauda. Apresenta no encontro das asas um esporão vermelho,afiado, ósseo, com cerca de 1cm de comprimento, sendo exibido a rivais ou inimigos com um alçar de asa ou durante o vôo, e usados como armas de defesa. O dorso é acinzentado, o peito é negro e a barriga branca. As pernas e a íris são avermelhadas. Medidas: Comprimento total 400mm, asa 220mm, cauda 85mm, tarso 75mm, bico 29mm, peso 270g. 
   Seu canto é uma onomatopéia de quatro sílabas(quero-quero ou tero-tero) pois é repetido várias vezes durante o dia ou à noite,por isso na região Sul, lhe valeram o apelido de "Quero-quero". Já na região Norte, esse canto é interpretado como "tem sono de Téu-téu", referindo-se a pessoas que acordam facilmente com qualquer ruído. Considerado por Zorilha de San Martin, como o guardião das aves, sentinela dos campos, do juncal e da terra, é a ave que dar o alarme, avisando outras aves e animais da presença de intrusos. Essa característica faz do quero-quero um excelente "cão de guarda", sendo utilizado por algumas empresas que possuem seu parque fabril populado por estas aves. Sua vocalização é alta ,podendo ser ouvida a centenas de metros, ao primeiro sinal de que algo diferente está acontecendo. Se a ameaça persistir, o grupo, formado por casais ou familiares, costuma dar voos rasantes em direção à fonte da perturbação, o que geralmente surte efeito.
   Alimenta-se de invertebrados aquáticos e peixinhos que encontra na lama. às vezes usa tática de pescar semelhante à de certas garças, espantando larvas de insetos e peixinhos ocultos na lama mexendo rapidamente um pé. também come artrópodes e moluscos terrestres.
   Na época da reprodução, de junho a dezembro, a fêmea põe normalmente de três a quatro ovos(até sete) com forma de pião ou pera, forma adequada para rolarem ao redor de seu próprio eixo e não lateralmente, sendo manchados, confundindo-se perfeitamente com o solo. Nidifica no chão,em depressões rasas em meio à vegetação rasteira, em locais secos que enchendo-as com algumas folhas secas. Os filhotes são nidífugos: capazes de abandonar o ninho quase que imediatamente após o descascamento do ovo. Assim que nascem, os filhotes são bastante ativos e quando alertados pelos pais, se escondem no meio da vegetação, ficando imóveis durante longo tempo. Os pais fingem estar com as asas quebradas e se arrastam pelo solo como se estivessem feridos com o intuito de despistar possíveis predadores de chegarem ao local do ninho ou se aproximar de seus pequenos filhotes. 
   Com relação à escolha do local de nidificação, os Quero-Queros não são muito seletivos. Não é por outro motivo que se tornaram presença constante nos campos de futebol brasileiros, por exemplo. Nesses locais, usados por esportistas apenas uma ou duas vezes por semana, encontram gramados amplos, cheios de insetos e quietos durante boa parte do dia. Como são aves que toleram muito bem a presença do Homem, acabam por ser uma das presenças mais constantes nos estádios de futebol. Infelizmente, quem sai perdendo é sempre o Quero-Quero. Não são incomuns as cenas em que essas aves são atropeladas por jogadores de futebol ou recebem boladas que, em muitos casos, fraturam asas ou são fatais. (Silveira, L. F.).
   Vive em zonas de baixa altitude,várzeas úmidas, em campos, praias arenosas, brejos, mangues,à beira de lagos,banhados e pastagens onde também nidifica, no solo; é visto em estradas, campos de futebol e próximo a fazendas, frequentemente longe d'água. Geralmente é visto aos pares ou em pequenos grupos, mas já foram observados bandos de mais de cem indivíduos.
   O quero-quero é uma ave típica da América do Sul, sendo encontrado desde a Argentina e leste da Bolívia até a margem direita do baixo Amazonas e principalmente no Rio Grande do Sul, no Brasil. Habita as grandes campinas úmidas e os espraiados dos rios e lagoas. Aproveitando-se do desmatamento das áreas florestais brasileiras, se expandiu lentamente nas últimas quatro décadas e hoje ocorre em grande abundância em todos os biomas do País, o que o tornou um indicador de ambientes onde a biodiversidade foi alterada para pior. Mesmo assim, o Quero-Quero tem o importante papel de auxiliar no controle biológico de insetos, sua principal fonte de alimento, sendo muito útil nas pastagens e em outras áreas abertas (Silveira, L. F.). Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa ave em todas as regiões, e acredito que ela ocorra em todos os municípios do nosso estado, inclusive aqui onde moro(em Parnamirim) de vez enquanto ouço sua vocalização sobrevoando a noite a minha casa. Seu estado de conservação é considerado pouco preocupante segundo a IUCN.
 De "personalidade forte", provoca rixas com outras espécies,habitantes da mesma área. Essa é a razão da alcunha de "Quero-quero" dada aos rebeldes do Rio Grande do Sul, por ocasião da revolução de 1893, sendo considerado ave símbolo do estado do Rio Grande do Sul e do Uruguai. “Aparece em cantigas tradicionais e se tornou personagem literário e dramatúrgico. Também deu seu nome a produtos e estabelecimentos comerciais, projetos educativos e um grupo musical gauchesco. A título de exemplo de sua popularidade, aludindo ao seu papel de sentinela dos campos - pelo que é muito estimado pelos estancieiros e fazendeiros - cite-se Rui Barbosa , que em um discurso proferido em 1914 chamou a ave de "o chantecler dos potreiros. Este pássaro(não é passeriforme) curioso, a que a natureza concedeu o penacho da garça real, o vôo do corvo e a laringe do gato, tem o dom de encher os descampados e sangas das macegas e canhadas com o grito estrídulo, rechinante, profundo, onde o gaúcho descobriu a fidelíssima onomatopéia que o batiza". No terreno folclórico, pode-se trazer à memória uma quadrinha brasileira, que reza: 
   
Quero-quero vai voando 

e os esporões vai batendo. 

Quero-quero quando grita 

alguma coisa está vendo.”

Classificação Científica
Reino: Animalia; Filo: Chordata; Classe: Aves; Ordem: Charadriiformes; Família: Charadriidae; Gênero: Vanellus ; Espécie: Vanellus chilensis (Molina, 1782).

Referências
Freire, Adauberto Antônio Valera. Fauna Potiguar. Natal: EDUFRN, 1997
Freire, A. A. 1999. Lista Atualizada de Aves do Estado do Rio Grande do Norte. Natal: Instituto de Desenvolvimento Econômico e Meio Ambiente do Rio Grande do Norte-IDEMA. 20 p.
F. Sagot-Martin, GOP. Lista I aves RN-arquipélagos extr. NE Brasil. Táxeus | Listas de espécies. 10/01/2003.
Johan Dalgas Frisch. Os Doze Cantos do Brasil, O Folclore de 12 das mais belas aves brasileiras. Dalgas-Ecoltec. São Paulo. 2002.
LIMA, Pedro Cerqueira. Aves da pátria da Leari. 1.ed. - Salvador: AO, 2004.
Luís Fábio Silveira. Mundo das Aves. O Valentão dos Campos de Futebol. Revista CÃES & CIA • 402.
Neto, Miguel Rocha. Guia ilustrado: fauna da escola das dunas de Pitangui-ecossistemas terrestre. Natal: moura ramos, 2001.
Nicéia wendel de Magalhães. Conheça o Pantanal. Terragraph, 1992. Pg:154
Sick, Helrnut. Ornitologia Brasileira; pranchas coloridas Paul Barruel e [ohn P.O'Neill ; coordenação e atualização José F. Pacheco. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1997.
WikiPedia, a enciclopédia livre. Quero-quero. Disponí­vel em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Quero-quero  Acessado em: 05/05/2014.