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domingo, 13 de outubro de 2024

Grão-de-galo(Cordia superba) uma espécie versátil e adaptável da flora brasileira


   Planta conhecida popularmente como acoará-muru, árvore-de-ranho, babosa branca, baba-de-boi, baba-de-boi-preta, carapiá, crista-de-galo, grão-de-galo, grão-de-porco, jangada, jangada-do-campo, jagoará-muru, louro, olho-de moça, pau-jangada, ramela-de-cachorro e tajaçu-caraplá. Entretanto seu nome científico é único, Cordia superba Cham.. Pertence a família Cordiaceae.

   Grão-de-galo(Cordia superba) é uma espécie de planta de porte arbustiva a arbórea sendo geralmente considerada de porte médio, podendo atingir 10 metros de altura, apresentando um tronco de até 30 centímetros de diâmetro. Suas folhas são simples e ásperas ao toque, enquanto suas flores brancas e perfumadas são um atrativo para diversos animais como por exemplo, abelhas. Floresce principalmente durante os meses de outubro a fevereiro, enquanto a frutificação ocorre geralmente nos meses de setembro a novembro.

   Grão-de-galo(C. superba) é uma espécie multifuncional, com diversas utilidades:
Ornamental: Devido à beleza de suas flores, tem potencial de ser utilizada em paisagismo urbano e rural.
Alimentar: Seus frutos servem de alimento para diversas espécies de aves e morcegos, contribuindo para a dispersão das sementes.
Medicinal: Estudos indicam que a planta possui propriedades medicinais, com propriedades imunomoduladoras.
Ambiental: A espécie desempenha um papel importante na recuperação de áreas degradadas e na conservação da biodiversidade. 

    É uma planta nativa e exclusivamente brasileira(endêmica), sendo confirmada em todas as regiões do Brasil e encontrada nos biomas Caatinga, Cerrado e na Mata Atlântica. Sua ampla distribuição geográfica indica uma grande capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas e de solo. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar e Agreste Potiguar, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências 
CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2010. v. 4, p. 79-85.

Cordia in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available at:<https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB16530>. consulta.publica.uc.citacao.acesso.em12 out. 2024.

DIESEL, Katarine Maria Freire. Florestas urbanas em Natal, RN: florística, conectividade e viabilidade de um jardim botânico. 2018. 85f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, v. 1, ed. 5, 2008.

sábado, 14 de setembro de 2024

A rara Borboleta asas-de-vidro Episcada hymenaea (Prittwitz, 1865) no Rio Grande do Norte

   Inseto conhecido popularmente como Borboleta asas-de-vidro ou Borboletinha-de-vidro, sendo seu nome científico Episcada hymenaea (Prittwitz, 1865). Ela pertence a família Nymphalidae, da qual também fazem parte por exemplo, a borboleta-estaladeira, a borboleta-esmeralda e a borboleta-zebra.
borboleta asas-de-vidro(Episcada hymenaea) documentada em floresta na serra de Luís Gomes, RN, Brasil. Ela foi observada no interior de mata densa nas proximidades de um riacho a cerca de 400 de altitude.

   A Borboleta asas-de-vidro(Episcada hymenaea) faz parte da subfamília Ithomiinae, na qual as suas lagartas(larvas) se alimentam de folhas principalmente de plantas da família Solanaceae, enquanto que na fase adulta(alada) consomem de maneira geral néctar de flores. Especificamente para espécie citada, as plantas-hospedeiras no qual as lagartas comem pertencem ao gênero Solanum(o mesmo da Jurubeba), tendo sido registrada seu desenvolvimento em Solanum diphyllum e Solanum compressum.
   A Borboletinha-de-vidro(Episcada hymenaea) geralmente é encontrada com maior frequência em mata primária, podendo ser considerada uma espécie bioindicadora. Ela habita principalmente ambientes florestais úmidos, mas pode ser encontrada também em florestas alteradas, tanto no interior de mata fechada como na borda. No Brasil tem sido documentada nos biomas Caatinga e Mata Atlântica, mas ocorre em outros países da América do Sul como Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste potiguar(foto). 

Referências

Calor, A. R. & Bravo, F. 2014. Artrópodes do semiárido: conhecimento atual e desafios para os próximos anos. In: Bravo, F. & Calor, A. R. eds. Artrópodes do semiárido: biodiversidade e conservação. Feira de Santana, Printmídia.

Costa FAPL (2002) Borboletas Ithomiinae (Lepidoptera, Nymphalidae) da Reserva Biológicas D’Anta (Juiz de Fora, MG). Revista Brasileira de Zoologia, 4:143-149.

Quinteros, R., & Bustos, E.O. (2018). Una enorme congregación de Episcada hymenaea (Lepidoptera: Nymphalidae: Danainae) en las yungas del norte de Salta, Argentina. Acta Zoológica Lilloana.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Águia-Serrana: Uma ave de rapina imponente nas serras brasileiras

   Ave conhecida popularmente como Águia-serrana, Gavião-de-serra, Gavião-pé-de-serra, Gavião-azul, e Turuna(Turana,Tourona e Torona são variações desse nome), entretanto seu nome científico é Geranoaetus melanoleucus (Vieillot, 1819). Pertence a família Accipitridae, da qual também fazem parte por exemplos, o gavião-caboclo, o gavião-caramujeiro e o gavião-carijó.

   A águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus) apresenta envergadura de quase 2 metros, atinge cerca de 66 cm de comprimento, sendo as fêmeas ligeiramente maiores que os machos, podendo alcançar 80cm de comprimento. Seu peso varia de 1.670g a 3.170 gramas. Na fase adulta apresenta cabeça e peito cinza-escuros, barriga branca, asas largas e cinza-esbranquiçadas com pontas pretas, cauda curta(característica marcante ) e arredondada.

   Excelente planadora, usando correntes de ar ascendentes para subir alto e observar suas presas com sua visão aguçada lançando-se em ataques rápidos e precisos quando a oportunidade surge. Ágil e acrobática em voo, ela é capaz de capturar suas presas em pleno ar. A Águia-Serrana alimenta-se principalmente de mamíferos e aves campestres, incluindo roedores e pequenos marsupiais, corujas-buraqueiras, quero-queros, répteis(cobras e lagartos), peixes (ocasionalmente), carniça (quando disponível) e até mesmo insetos. Há relatos de predação a animais de criação(doméstico) gerando assim um certo grau de conflito com humanos, sendo a águia-serrana abatida em casos extremos. O abate(caça) associado a outros fatores podem contribuir para a extinção local da espécie em algumas localidades montanhosas do país, mesmo ela não estando classificada em nível nacional como espécie ameaçada de extinção.

   O acasalamento da Águia-Serrana(Geranoaetus melanoleucus) ocorre ao longo do ano, variando conforme a latitude. Durante a corte, o macho realiza voos acrobáticos para impressionar a fêmea. Os ninhos são construídos em penhascos ou escarpas rochosas, utilizando galhos secos como base e forrando-os com palha, folhas e plumas. Eles são construídos em conjunto pelo casal e serve de abrigo para os ovos(1-3 por ninhada), que são incubados por ambos os pais por cerca de 30 a 42 dias. Após a eclosão, os filhotes permanecem no ninho por 42 a 59 dias, aprendendo com seus pais as técnicas de caça e sobrevivência. A maturidade sexual é atingida por volta dos três anos de idade.

   Espécie geralmente solitária ou em pares, mas pode formar bandos de até 5 indivíduos. A águia-serrana é uma espécie residente, independente de ambientes florestais, preferindo áreas abertas e montanhosas, como campos, savanas e cerradões, onde encontra suas presas e locais adequados para nidificar. Ela é encontrada em grande parte da América do Sul, desde a Cordilheira dos Andes até a Terra do Fogo. No Brasil, está presente em quase todo o território, exceto na região Norte. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Agreste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar.


Referências

Adriano Rodrigues Lagos ... [et al.] . Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro : FURNAS, 2018.

Favretto, M. A. Aves do Brasil, vol I: Rheiformes a Psittaciformes. Florianópolis. 2021. 596 p. : il.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

Lima, L. M. Aves da Mata Atlântica: riqueza, composição, status, endemismos e conservação. 2013. 513f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo. 2013.

Piacentini, V. Q. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, V. 23, N. 2, p. 91–298, 2015.

PICHORIM M, Oliveira DV, Oliveira-Júnior TM, Câmara TPF, Nascimento EPG (2016) Pristine semi-arid areas in northeastern Brazil remain mainly on slopes of mountain ranges: a case study based on bird community of Serra de Santana. Trop Zool 29:189–204. https://doi.org/10.1080/03946975.2016.1235426

Sick, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 862p, 2001.

Sigrist, T. Avifauna Brasileira: The avis brasilis field guide to the birds of Brazil, 1ª edição, São Paulo: Editora Avisbrasilis, 2009.

Silva JMC et al. 2003 Aves da Caatinga: status, uso do habitat e sensitividade. In: Leal IR et al. (Eds) Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Editora Universitária/UFPE.

Torres, Denise de Freitas. Conflitos, caça e conservação da fauna silvestre. 2019. 143 f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.

sábado, 8 de junho de 2024

Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl.,uma orquídea exótica invasora

Oeceoclades maculata_Orquídea

   Essa planta pertence a família Orchidaceae(vulgarmente chamada família das orquídeas), sendo seu nome científico válido atualmente Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl.. 

    Erva terrestre e de sombra facilmente identificada pela presença de folhas rígidas maculadas(daí seu epíteto específico, a origem do seu nome-maculata), pseudobulbo evidente, flores com pétalas levemente rosadas e labelo branco. A espécie geralmente floresce no outono.
flores da orquídea Oeceoclades maculata

   A orquídea Oeceoclades maculata é de origem africana e foi introduzida no continente americano tornando-se naturalizada, sendo considerada a orquídea africana com maior sucesso invasor no mundo. Isso porque a mesma se adaptou a diferentes tipos de habitat incluindo principalmente ambientes antropizados, dessa forma ela passou inclusive a ocupar o nicho ecológico de algumas espécies nativas. Essa espécie foi avaliada como provável biomonitora ativa de acumulação de metais pesados presentes no ar atmosférico e mostrou-se eficaz para tal função.

   Ela apresenta ampla distribuição ocorrendo por toda a África tropical e nas Américas, da Flórida ao Paraguai. No Brasil O. maculata ocorre em todas as regiões do país, incluindo uma grande variedade de fitofisionomias(geralmente em matas ribeirinhas) nos biomas Amazônia, Cerrado, Caatinga e Mata Atlântica. É importante destacar que a maioria dos registros dessa espécie no Brasil, estão presentes em ambiente litorâneo nas regiões Nordeste e Sudeste do país, exatamente onde o processo de urbanização é mais evidente e consequentemente há maior alteração do meio. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar e Agreste Potiguar, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências
DIESEL, Katarine Maria Freire. Florestas urbanas em Natal, RN: florística, conectividade e viabilidade de um jardim botânico. 2018. 85f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.

HALL, C. F. Orchidaceae no Parque Estadual da Serra de Caldas Novas, Goiás, Brasil. 2009. 85 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Evolução) – Universidade Federal de Goiás, Goiânia, 2009.

MAMEDE, Vitor Pimenta. Um panorama das orquídeas exóticas invasoras no Brasil. 2020. 31 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Engenharia Ambiental) – Universidade Federal de Uberlândia, Uberlândia, 2020.

MOURA, Edweslley Otaviano de. Relações florísticas e ambientais no litoral semiárido do Rio Grande do Norte, Brasil. 2017. 39f. Dissertação (Mestrado em Sistemática e Evolução) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2017.

RAGGI, Fernando Augusto Santos. Uso de Oeceoclades maculata (Lindley) Lindley como bioindicadora de metais pesados no ar atmosférico da cidade de Volta Redonda, RJ. 2020. 80 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-Graduação em Tecnologia Ambiental, Universidade Federal Fluminense, Volta Redonda, 2020.

STENCEL, M.A. et al. Plasticidade fenotípicovegetativa de Oeceoclades maculata (Lindl.) Lindl. (Orchidaceae) em dois ambientes de área florestada. Revista em Agronegócio e Meio Ambiente, v. 9, n. 3, p. 635-655, 2016.

sábado, 30 de março de 2024

Besouro-de-chuquinha, conheça o besouro que ficou famoso na internet


   Há alguns anos atrás uma foto de um besouro desses foi postado nas redes sociais(twitter e facebook), e na época viralizou as postagens nas quais as pessoas batizaram o animal com o nome de "besouro de chuquinha", "besouro Paquita da Xuxa" e até de barata de chuquinha(não é uma barata). Repito: Não é uma barata, não é venenoso e nem peçonhento.
besouro serra-pau(Psygmatocerus wagleri) fotografado na sede da Reserva Particular do Patrimônio Natural Refúgio Jamacaii, Equador, RN, Brasil.

   O animal da foto pertence ao grupo dos insetos(Classe Insecta-mais diversificado da Terra), sendo mais específico ele pertence ao grupo dos besouros(ordem Coleoptera), a família Cerambycidae e a espécie Psygmatocerus wagleri Perty, 1828. O adulto dessa espécie pode atingir 38mm de comprimento e como todos os besouros Cerambicídeos possui peças bucais bem desenvolvidas, apresentando fortes mandíbulas que contribuem para serrar galhos, nos quais as fêmeas depositam seus ovos nas incisões. Por isso, esses bichos são conhecidos vulgarmente como besouro serra-pau, serrador ou toca-viola. Segundo Costa Lima(1955) a larva desse besouro é "broca do óleo vermelho (Myrospermum erythroxylon) e da manga brava(Swartzia langsdorfii)".

   Mas o que chama mais a atenção nesse besouro são suas antenas do tipo "flabelada(antena em forma de leque)", as quais são formadas por vários "ramos", aumentando assim a área de superfície disponível. Isso proporciona por exemplo para ele, melhor percepção da variação de temperatura ou umidade e até no caso do macho detectar feromônios sexuais da fêmea. 

   O besouro serra-pau(Psygmatocerus wagleri) ocorre na América do Sul(Brasil, Bolívia, Paraguai e Argentina), tendo sido confirmado sua presença nos seguintes estados brasileiros: Maranhão, Ceará, Rio Grande do Norte, Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio de Janeiro, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Durante as minhas expedições pelo Rio Grande do Norte só observei essa espécie até o momento apenas na Mesorregião Central Potiguar, na RPPN Refúgio Jamacaii em Equador.


Referências
COSTA LIMA, A. Insetos do Brasil. 9.º tomo, capítulo XXIX: coleópteros, 3.ª parte. Rio de Janeiro: Escola Nacional de Agronomia, Série Didática n. 11, p. 98-99, 1955.

GULLAN, P.J. Insetos: fundamentos da entomologia / P.J. Gullan, P.S. Cranston; Com ilustrações de Karina H. McInnes; Tradução e Revisão Técnica Eduardo da Silva Alves dos Santos, Sonia Maria Marques Hoenen – 5. ed. – Rio de Janeiro: Roca, 2017.

NASCIMENTO, Francisco E. De L., Bravo, Freddy, Monnè, Miguel A. (2016): Cerambycidae (Insecta: Coleoptera) of Quixadá, Ceará State, Brazil: new records and new species. Zootaxa 4161 (3): 399-411, DOI: 10.11646/zootaxa.4161.3.7.

domingo, 18 de fevereiro de 2024

Saracura-três-potes, a saracura mais popular do Brasil

   Ave conhecida popularmente como Saracura-três-potes, Três-potes, Três-coco, Sericóia, Chiricote, entretanto seu nome científico é único, Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776).

   A Saracura-três-potes (Aramides cajaneus) é uma ave que pertence à família Rallidae, este é um grupo cosmopolita da qual fazem parte as aves conhecidas como saracura, sanãs, galinhas-d'água, frangos-d'água e carquejas (Sick,2001). Os ralídeos de maneira geral são aves inquietas o que pode ser percebido pela movimentação frequente da cauda curta, mas não são facilmente observáveis devido a sua camuflagem se revelando mais através das suas vocalizações (Sick,2001). Essa espécie atinge cerca de 40cm de comprimento e peso médio de 412 gramas, possui cabeça e pescoço cinzas, bico com porção basal amarelada e a porção distal verde, olhos avermelhados, região dorsal e asas marrom-oliváceo e ventral castanho-ferrugíneo(Sick,2001; Lima,2006; Favretto,2021).

   Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) é a saracura mais conhecida no Brasil devido ao seu grande porte e seu canto grave e alto efetuado geralmente em dueto principalmente nas primeiras horas do dia e após o pôr-do-sol. Vive em regiões pantanosas em meio a vegetação, nas matas as margens de corpos de água como lagos e rios, podendo viver em matas mais úmidas e até distante de porções de água (Antas,2005; Sick,2001). É uma espécie onívora, pois se alimenta de animais invertebrados e também de pequenos vertebrados além de grãos (Antas,2005; Sick,2001). Como tem facilidade em escalar árvores, ela pode predar ovos e até filhotes de outras aves(Sigrist,2009). Espécie monogâmica que pode se reproduzir durante qualquer período do ano, na qual ela constrói seu ninho com folhas e gravetos em forma de tigela sobre arbusto ou no interior da vegetação. Nesse ninho colocam até 7 ovos de cor branca com pintas marrons, os quais são incubados pelos pais por cerca de 20 dias, nascendo os filhotes com plumagem na cor negra(Lima,2006; Favretto,2021). 

   Aramides cajaneus (Statius Muller, 1776) é uma espécie politípica que apresenta nove subespécies reconhecidas e apresenta ampla distribuição nas Américas, ocorrendo desde o México ao norte da Argentina e Uruguai (Lima,2013). Ela é residente no Brasil e ocorre em todos os estados do país, habitando nas regiões alagadas em meio a vegetação e nas matas principalmente as margens dos corpos de água de todos os biomas brasileiros (Antas,2005; Sick,2001; Lima,2013). Ela não está ameaçada de extinção em nível nacional de acordo como o Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção, onde a mesma foi classificada na categoria “LC”-Pouco Preocupante (ICMBio,2018). No Rio Grande do Norte a espécie tem registros confirmados tanto na Mata Atlântica como também na Caatinga e região de transição entre os biomas. 

Referências
Antas, P. T. Z. (2005) Aves do Pantanal. RPPN: Sesc.

Favretto, M. A. Aves do Brasil, vol I: Rheiformes a Psittaciformes. Florianópolis. 2021. 596 p. : il.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

Lima, L. M. Aves da Mata Atlântica: riqueza, composição, status, endemismos e conservação. 2013. 513f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo. 2013.

Lima, Pedro Cerqueira. Aves do litoral norte da Bahia. – 1 ed. – Bahia: AO, 2006.

Piacentini, V. Q. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, V. 23, N. 2, p. 91–298, 2015.

Sick, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 862p, 2001.

Sigrist, T. Avifauna Brasileira: The avis brasilis field guide to the birds of Brazil, 1ª edição, São Paulo: Editora Avisbrasilis, 2009.

Souza, F.V. Aves observadas em Baía Formosa(Mata Estrela, Fazenda Estrela e Mata da Bela), RN, Brasil. 10/02/2019. Disponível em: https://www.taxeus.com.br/lista/12850 Acesso em: 18 de fev. 2024.