sexta-feira, 14 de novembro de 2025

Capivara no Rio Grande do Norte: registros e história natural do maior roedor do mundo

Presente em lagoas, açudes e áreas úmidas potiguares, a capivara (Hydrochoerus hydrochaeris) revela uma fascinante adaptação à vida semi-aquática e desempenha papel essencial na natureza.


🌿 Introdução

Você sabia que o maior roedor do planeta é um excelente nadador e vive em grupos familiares às margens dos rios brasileiros?
A capivara (Hydrochoerus hydrochaeris, família Caviidae) é um dos animais mais emblemáticos da fauna sul-americana. Presente em todo o território nacional, inclusive no Rio Grande do Norte, ela representa a perfeita harmonia entre o ambiente aquático e o terrestre. Apesar de sua aparência dócil, esse gigante tranquilo possui adaptações surpreendentes e uma vida social complexa que desperta a curiosidade de cientistas e amantes da natureza.


🐾 Descrição morfológica

A capivara impressiona pelo tamanho: pesa entre 35 e 65 quilos e pode atingir 1,34 metro de comprimento, sendo o maior roedor existente no mundo. Seu corpo é robusto, de formato cilíndrico, coberto por pelagem densa e grossa, com coloração predominantemente castanho-avermelhado nas partes superiores, e tons amarelados ou amarronzados na região ventral.
Possui cabeça grande e orelhas curtas e arredondadas, olhos altos que permitem observar o ambiente enquanto o corpo permanece submerso e patas parcialmente palmadas, providas de membranas interdigitais que facilitam a locomoção na água. 

As patas dianteiras têm quatro dedos, enquanto as traseiras tem três. A cauda é vestigial, quase imperceptível, e a fêmea apresenta quatro pares de mamas, uma característica importante para a criação coletiva dos filhotes.

Essas adaptações anatômicas fazem da capivara uma verdadeira especialista em ambientes alagados — um roedor semi-aquático perfeitamente moldado à vida entre a terra e a água.


🌎 História natural e comportamento

As capivaras são herbívoras diurnas(mais ativa no final da tarde e início da noite), alimentando-se principalmente de gramíneas e vegetação aquática, como capim e aguapés. Sua dieta, no entanto, varia de acordo com a estação do ano e a disponibilidade de recursos. Durante os períodos de seca, grandes grupos podem se reunir ao redor das poucas fontes de água restantes, formando agregações de até cem indivíduos.

A vida social da espécie é intensa e bem organizada. Os grupos, geralmente compostos por 2 a 30 animais, são liderados por um macho dominante, responsável por proteger o território e as fêmeas, onde ele defende o acesso aos recursos. Esse sistema de acasalamento é poligínico, e as interações dentro do bando incluem vocalizações, banhos de lama e longos períodos de descanso coletivo ao sol.


A reprodução ocorre durante todo o ano, especialmente nas regiões tropicais. A gestação dura cerca de 120 dias a 5 meses, resultando em prole de 1 a 7 filhotes, com média de 3 a 4. Logo após o nascimento, os filhotes são precoces e já conseguem acompanhar o grupo em poucas horas, aprendendo rapidamente a nadar e pastar.
Estudos realizados no Pantanal e na Venezuela mostram que o pico de nascimentos acontece no período chuvoso, quando a vegetação está mais abundanteA expectativa de vida reprodutiva é curta em comparação a outros mamíferos, cerca de 5 anos, mas o sucesso reprodutivo é elevado graças à estrutura social coesa.

Um aspecto notável da capivara é sua notável tolerância a ambientes modificados pelo homem. É comum encontrar populações vivendo em áreas urbanas, como margens de rios canalizados e parques dentro de grandes cidades. Em São Paulo, por exemplo, grupos prosperam mesmo às margens dos poluídos rios Tietê e Pinheiros, mostrando a incrível capacidade de adaptação da espécie.


🌍 Habitat, ocorrência e distribuição geográfica

A Hydrochoerus hydrochaeris apresenta ampla distribuição geográfica, ocorrendo em quase toda a América do Sul, do leste dos Andes até o Uruguai e Argentina, passando por Colômbia, Venezuela, Guianas, Peru, Bolívia, Paraguai e, claro, todo o Brasil.

No território brasileiro, está presente em todos os estados, incluindo o Rio Grande do Norte, sendo mais comum nas margens de rios, lagos, açudes e áreas úmidas de planície. Ela habita praticamente todos os biomas nacionais — Amazônia, Cerrado, Caatinga, Mata Atlântica, Pantanal e Pampa — e pode ocupar até savana sazonalmente alagada, pântanos de mangue e áreas alagadas salobras.

Durante minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado a capivara com maior frequência na faixa costeira, especialmente no litoral sul do RN, em áreas pantanosas, represas e lagos cercados por vegetação típica do bioma Mata Atlântica. Além desses registros litorâneos, também já encontrei evidências de sua presença ao redor de açude em áreas de ecótono-transição entre a Mata Atlântica e a Caatinga, na mesorregião Agreste Potiguar.   

Pegada de Capivara em solo úmido as margens de açude em área de transição entre Mata Atlântica e Caatinga Potiguar.

⚠️ Ameaças e grau de risco

A capivara não está ameaçada de extinção em nível mundial de acordo com a lista vermelha da IUCN, e também em nível nacional de acordo como o Livro vermelho da fauna brasileira ameaçada de extinção. Em ambas as avaliações ela foi classificada na categoria “LC”-Menos Preocupante. Isso significa que não há evidências atuais de declínio populacional severo, embora a caça ainda represente a principal ameaça local em algumas regiões.

Historicamente, a espécie foi amplamente caçada por sua carne e couro, e entre 1976 e 1979, quase 80 mil peles foram exportadas apenas da Argentina. No Brasil, acredita-se que a pressão de caça diminuiu com o aumento de criadouros legalizados e manejo sustentável, mas a prática de abate ainda ocorre em áreas isoladas, o que deve contribuir para extinções locais.

Além disso, a perda de habitats úmidos — devido à drenagem, agricultura intensiva e urbanização — pode afetar populações locais, especialmente em regiões semiáridas. Mesmo assim, em várias localidades brasileiras há indícios de crescimento populacional, resultado da grande capacidade de adaptação e da ausência de predadores naturais em zonas urbanas.

Em alguns contextos, o aumento populacional gera conflitos com agricultores, pois bandos podem danificar plantações de milho e pastagens. Por isso, órgãos ambientais e pesquisadores estudam estratégias de manejo populacional e convivência, equilibrando conservação e controle.


🌿 Importância ecológica

A capivara exerce um papel ecológico fundamental nos ecossistemas aquáticos e ribeirinhos. Como herbívora de grande porte, ela controla o crescimento da vegetação do entorno das áreas alagadas e da vegetação aquática, além de influenciar a distribuição de nutrientes nas margens de rios e lagoas. Seus excrementos enriquecem o solo, favorecendo o crescimento de plantas e contribuindo para a ciclagem de matéria orgânica. 

Fezes de capivara em trilha no interior da Mata Atlântica as margens de área alagada no Rio Grande do Norte. 

Além disso, é presa natural de grandes predadores, como as onças, a jaguatirica, a sucuri e a jiboia, sendo elo importante nas cadeias tróficas.

💡 Curiosidades sobre a capivara

·         A capivara mantém-se nas proximidades de corpos de água, pois ao sentir-se ameaçada, ela mergulha, ficando submersa por tempo suficiente para escapar.

·          Vive em grupos coesos, com forte comportamento social e cuidado coletivo dos filhotes.

·         Seu couro era tão valorizado que impulsionou uma intensa caça comercial nas décadas de 1970 e 1980.

·         No Brasil, pode ser vista até em parques urbanos, convivendo com humanos em harmonia surpreendente.


👉Você já avistou capivaras nas lagoas ou rios do Rio Grande do Norte? 
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A capivara é um exemplo de adaptação e equilíbrio na natureza. Símbolo de tranquilidade, ela mostra que a convivência entre fauna silvestre e áreas urbanas é possível — desde que haja respeito e preservação.

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Referências

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domingo, 26 de outubro de 2025

Graúna: o pássaro-preto de canto poderoso que encanta o Nordeste!

 Conheça a graúna, uma das aves mais emblemáticas do Nordeste brasileiro — dona de um canto forte e melodioso, beleza marcante e papel essencial na natureza.

🐦 Introdução

A graúna é um pássaro da família Icteridae, da qual também fazem parte, por exemplo, as espécies conhecidas como encontro-de-ouro, a polícia-inglesa-do-sul e vira-bosta, dentre outras. A palavra graúna deriva do tupi "guira-una" que quer dizer "ave-preta", referindo-se exatamente a sua plumagem negra e de brilho intenso. Pronto pra conhecer melhor alguns aspectos bio-ecológicos dessa espécie?


🪶 Aparência e comportamento

Com cerca de 25 centímetros de comprimento e pesando até 94 gramas, a graúna (Gnorimopsar chopi) é inconfundível. Seu corpo é coberto por penas negras com brilho de seda, o bico e os olhos também são pretos, dando a ela um ar elegante e misterioso.

Essas aves vivem sozinhas, em casais ou em pequenos grupos, mas fora do período reprodutivo podem formar bandos com mais de 100 indivíduos! Costumam se alimentar no solo, onde procuram insetos, sementes, frutas e até néctar de flores.


🌍 Onde encontrar

A graúna (G. chopi) está espalhada por grande parte da América do Sul, ocorrendo no Peru, Bolívia, Paraguai, Argentina, Uruguai e em praticamente todo o Brasil — desde o Rio Grande do Sul até o Pará, Mato Grosso e Rondônia.


No Nordeste, especialmente no Rio Grande do Norteela é relativamente rara, possivelmente devido à captura ilegal e venda em feiras livres, já que é muito apreciada por criadores pelo seu canto marcante. Em algumas regiões, essas capturas têm causado uma redução drástica das populações locais, tornando a graúna uma presença cada vez mais difícil de ser observada livremente na natureza potiguar. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, observei essa espécie nas mesorregiões Agreste Potiguar e Central Potiguar, ou seja, principalmente no bioma Caatinga, as observações em áreas pertencentes ao bioma Mata Atlântica me parecem ter sido provenientes de soltura. Assim como o concriz, a graúna é uma ave nativa da fauna brasileira e também uma espécie semi-dependente de ambientes florestais.

Importante ressaltar que a captura, comercialização e criação de animais silvestres brasileiros, como a graúna, são práticas ilegais previstas na Lei nº 9.605/1998, conhecida como Lei de Crimes Ambientais, que em seu artigo 29 proíbe essas ações sob pena de detenção e multa. Essa legislação visa proteger a fauna brasileira e coibir o tráfico de animais silvestres, que é uma das maiores ameaças às populações naturais dessas espécies. As únicas exceções de manejo da fauna brasileira são para profissionais autorizados, como biólogos e médicos veterinários, que realizam estudos como por exemplos levantamentos ou monitoramentos de fauna mediante prévia licença ou autorização concedida pelos órgãos ambientais competentes (como IBAMA ou órgãos estaduais). 


🌱 Importância ecológica

A graúna é uma ave onívora que tem papel fundamental na manutenção do equilíbrio ambiental, pois ao se alimentar de insetos, deve contribuir para o controle biológico de pragas agrícolas. Quando consome frutas e sementes, atua como potencial dispersora de plantas nativas, ajudando na regeneração da vegetação. Essas funções tornam a graúna uma aliada natural dos agricultores e do meio ambiente.


🔍 Curiosidades sobre a graúna

  • O canto da graúna é considerado um dos mais fortes e melodiosos do Brasil. Quando várias delas cantam juntas, o som é simplesmente impressionante.
  • Seus ninhos podem ser feitos em ocos de árvores, cupinzeiros, barrancos, ninhos abandonados ou até canos de PVC.
  • Os filhotes recebem cuidados tanto dos pais quanto de outros adultos ajudantes.
  • Entre seus predadores registrados destaca-se a cobra-cipó (Philodryas olfersii), que pode atacar ninhos.
  • Infelizmente, a graúna é muito capturada para o tráfico de aves, e muitas não sobrevivem devido aos maus-tratos.

👉 Você já viu a graúna ou ouviu o seu canto? Conte sua experiência nos comentários!


💚 Um símbolo da avifauna nordestina

Mais do que um pássaro de beleza marcante, a graúna representa a força e a harmonia dos ecossistemas brasileiros. Proteger essa espécie é também preservar o som e a vida dos nossos campos e matas.

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Referências

LAGOS, Adriano Rodrigues et al. Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro: FURNAS, 2018.

FAVRETTO, Mario Arthur. Aves do Brasil, vol. II: Passeriformes. Florianópolis: Mario Arthur Favretto, 2023.

LIMA, Pedro Cerqueira. Aves do litoral norte da Bahia. 1. ed. Bahia: AO, 2006.

PIACENTINI, V. Q. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 23, n. 2, p. 91–298, 2015.

PICHORIM, M.; OLIVEIRA, D. V.; OLIVEIRA-JÚNIOR, T. M.; CÂMARA, T. P. F.; NASCIMENTO, E. P. G. Pristine semi-arid areas in northeastern Brazil remain mainly on slopes of mountain ranges: a case study based on bird community of Serra de Santana. Tropical Zoology, v. 29, p. 189–204, 2016. DOI: 10.1080/03946975.2016.1235426.

SICK, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2001. 862 p.

SIGRIST, T. Avifauna Brasileira: The avis brasilis field guide to the birds of Brazil. 1. ed. São Paulo: Editora Avisbrasilis, 2009.

SILVA, J. M. C. et al. Aves da Caatinga: status, uso do habitat e sensitividade. In: LEAL, I. R. et al. (Eds). Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Editora Universitária/UFPE, 2003.

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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Como os polinizadores garantem o futuro de nossos ecossistemas e agricultura?

Polinização: Um Serviço da Natureza Essencial para a Vida no Planeta e a Produção de Alimentos

Ilustração da polinização mostrando as partes da flor:estigma, óvario e óvulo.
O polinizador transporta o pólen até o estigma da flor, onde germina e permite a fecundação no ovário...

          A polinização consiste no transporte de grãos de pólen dos órgãos reprodutivos masculinos para os femininos das flores, constituindo um mecanismo fundamental para a reprodução vegetal que culmina na produção de frutos e sementes. Este processo representa um serviço ecossistêmico multifacetado, abrangendo funções regulatórias, de provisão e culturais, caracterizando-se como uma interação ecológica de amplos benefícios para a humanidade. Estes incluem a preservação e promoção da diversidade genética em populações vegetais nativas, sustentando a biodiversidade e as funções ecossistêmicas, a garantia de fornecimento sustentável e diversificado de produtos como frutos, sementes, mel e derivados, além da valorização de conhecimentos tradicionais e aspectos culturais associados (IPBES 2016; Costanza et al. 2017). 

O valor econômico global dos serviços de polinização evidencia sua importância estratégica, especialmente na produção alimentar. Estimativas apontam que esse serviço ecossistêmico movimenta entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões anualmente em escala mundial (IPBES 2016). Enquanto no Brasil estima-se que o serviço de polinização contribuía diretamente com cerca de R$ 43 bilhões por ano em valor agregado conforme dados de 2018 (Freitas et al.,2023). 

A reprodução da maioria das espécies vegetais, tanto cultivadas quanto silvestres, depende da polinização zoófila(por animal). Os principais agentes polinizadores são predominantemente insetos, incluindo abelhas, coleópteros(besouros), dípteros(moscas), lepidópteros (borboletas e mariposas) e vespas. Porém também existem vários animais vertebrados que atuam como polinizadores, como algumas aves, quirópteros (morcegos), mamíferos terrestres e répteis como lagartos. Dentre todos os animais as abelhas destacam-se como o grupo de polinizadores de maior relevância agrícola, isso porque elas visitam mais de 90% das 107 principais culturas agrícolas mundiais já catalogadas cientificamente (Klein et al. 2007). O desaparecimento das abelhas seria um golpe profundo na biodiversidade e na segurança alimentar. Sem polinização, muitas plantas deixariam de se reproduzir, afetando ecossistemas inteiros e ameaçando a subsistência humana.

A variedade de Polinizadores no Rio Grande do Norte: Mais do que um Espetáculo Natural

Diversidade de polinizadores: abelhas, besouros, aves, morcegos e muito mais.

Quando percorremos as paisagens do Rio Grande do Norte, desde as áreas mais áridas da Caatinga até os remanescentes de Mata Atlântica, é impossível não se impressionar com a intensa atividade dos polinizadores. Abelhas nativas zumbem entre as flores de diversas plantas, beija-flores voam velozes de flor em flor , borboletas dançam sobre a vegetação ripária em busca de néctar, e muitos morcegos desempenham seu papel silencioso durante a noite. Esta diversidade de interações não é apenas bela de se observar – ela é fundamental para a sobrevivência dos ecossistemas e da agricultura. 

O Rio Grande do Norte está inserido numa das regiões mais biodiversas do planeta, os Neotrópicos, mas essa riqueza muitas vezes passa despercebida. Os polinizadores do Rio Grande do Norte são verdadeiros "viajantes" entre diferentes mundos vegetais. Eles transitam por pelo menos seis tipos distintos de vegetação em terras potiguares, cada um oferecendo recursos únicos. Essa mobilidade entre habitats é crucial – muitas espécies dependem de plantas específicas para diferentes necessidades: algumas fornecem néctar de alta qualidade, outras pólen rico em proteínas, e algumas ainda servem como locais de nidificação. A natureza terrestre e semi-arborícola de muitos polinizadores locais é particularmente fascinante. Eles conseguem explorar desde o chão da Caatinga até o dossel da Mata Atlântica, aproveitando microhabitats que passariam despercebidos por espécies menos versáteis. Cada grupo ocupa nichos específicos, aproveitando recursos florais em diferentes horários e alturas da vegetação. 

Sabe-se que diversas espécies polinizadoras — ou com potencial para tal — ocorrem em território potiguar. Entre os vertebrados, destacam-se os morcegos e as aves. Dentre os quirópteros, o morcego-beija-flor (Glossophaga soricina) atua na polinização de plantas como a pata-de-vaca (Bauhinia sp.) e o xique-xique (Pilosocereus gounellei). Outras espécies relevantes de morcegos polinizadores incluem Lonchophylla mordax e Xeronycteris vieirai, esta última endêmica da Caatinga, associada à polinização do xique-xique (Pilosocereus gounellei) e do mandacaru (Cereus jamacaru).

beija-flores como aves polinizadoras da fauna potiguar
beija-flor-de-garganta-verde e beija-flor-de-barriga-branca visitando flores

No grupo das aves, os beija-flores são os principais agentes polinizadores. Entre eles, destacam-se em nossa fauna: Chionomesa fimbriata (beija-flor-de-garganta-verde), Chrysolampis mosquitos (beija-flor-vermelho), Eupetomena macroura (beija-flor-tesoura)Chlorostilbon lucidus (besourinho-de-bico-vermelho), este último considerado o principal polinizador do coroa-de-frade (Melocactus zehntneri).

Entre os invertebrados, o Rio Grande do Norte abriga uma diversidade magnífica, com destaque especial para as abelhas. A espécie Apis mellifera desempenha papel fundamental na polinização de culturas agrícolas como caju (Anacardium occidentale), café (Coffea arabica), maçã (Malus domestica), melão (Cucumis melo) e soja (Glycine max), entre outras de interesse econômico.

Abelhas Apis desempenhando papel de polinizadores na fauna potiguar
abelhas exóticas( A. mellifera) coletando pólen e possivelmente participando da polinização

A abelha jandaíra (Melipona subnitida) também poliniza o caju, além de goiaba (Psidium guajava), pimentão (Capsicum annuum), catanduva(Pityrocarpa moniliformis), jurema-preta (Mimosa tenuiflora), marmeleiro e jucá. Já a uruçu (Melipona scutellaris) está associada à polinização do abacate (Persea americana), pimentão, pitanga (Eugenia uniflora) e canafístula, entre outras espécies. A arapuá (Trigona spinipes) visita flores de abóbora (Cucurbita moschata), caju, girassol (Helianthus annuus), laranja (Citrus sinensis), melancia (Citrullus lanatus) e tamarindo (Tamarindus indica), entre muitas outras. A mamangava-pardinha (Centris aenea) é polinizadora da acerola (Malpighia emarginata), caju, goiaba e tamarindo. A mamangava-de-toco (Xylocopa grisescens) atua na polinização do maracujá-amarelo (Passiflora edulis), enquanto Eulaema nigrita visita o maracujá-doce (Passiflora alata), o maracujá-amarelo, urucum (Bixa orellana) e pau-d’arco (Tabebuia aurea), entre outras espécies.

abelhas nativas do brasil como polinizadores essenciais para a biodiversidade
Abelhas nativas participando da polinização

Além das abelhas, os besouros ocupam posição de destaque entre os insetos polinizadores, sendo o quarto grupo mais relevante nesse papel e o segundo mais frequente visitante de flores em regiões tropicais, conforme apontado por Bawa (1990) e Ollerton (2017). Estima-se que estejam diretamente envolvidos na reprodução de cerca de 2.000 espécies de angiospermas. No Brasil, pequenos besouros das famílias Chrysomelidae, Curculionidae, Nitidulidae e Staphylinidae, além de escarabeídeos da tribo Cyclocephalini, atuam como polinizadores especializados de palmeiras, anonáceas e aráceas, tanto em ecossistemas naturais quanto em áreas agrícolas.

besouros atuando como polinizadores na fauna do RN
besouros com potencial de polinização visitando flores 

Outro grupo relevante é o dos lepidópteros (borboletas e mariposas), que também contribuem para a polinização. Algumas espécies notáveis incluem: Heraclides thoas brasiliensis (borboleta caixão-de-defunto)Phoebis sennae (borboleta-amarela)AsciamonusteEurema elatheaHeliconius ethilla narcaea (borboleta maria-boba)Heliconius erato phyllis (borboleta castanha-vermelha)Parides sp., entre outras.

borboletas e mariposas atuam como polinizadores e contribuem para a biodiversidade
Exemplos de Borboletas que ajudam a manter a biodiversidade ao transportar pólen entre flores

Por fim, vespas sociais e solitárias também são visitantes florais e potenciais polinizadores. Entre os marimbondos com esse papel, destacam-se Polistes canadensis (marimbondo-caboclo)Polybia occidentalis occidentalis (marimbondo-fura-olho).

O Papel Fundamental dos Polinizadores: Ecologia, Agricultura e Sustentabilidade

Os polinizadores desempenham um papel vital na manutenção da saúde e estabilidade dos ecossistemas. Eles são responsáveis pela reprodução de mais de 75% das plantas com flores, o que é essencial para sustentar a biodiversidade e apoiar os sistemas de produção de alimentos. A presença de polinizadores facilita a reprodução das plantas, resultando na produção de frutos, sementes e outros materiais vegetais que são cruciais tanto para a vida selvagem quanto para a dieta humana.

As contribuições ecológicas dos polinizadores vão além da mera reprodução; eles melhoram significativamente a saúde do ecossistema. Ao facilitar a reprodução das plantas, os polinizadores ajudam a sustentar habitats para várias espécies, que dependem de plantas com flores para alimentação e abrigo. Uma única espécie de abelha pode polinizar dezenas de espécies vegetais diferentes, que por sua vez alimentam e abrigam centenas de outras espécies animais. O declínio das populações de polinizadores pode ter efeitos em cascata em ecossistemas inteiros, afetando não apenas as plantas que polinizam, mas também as inúmeras espécies que dependem dessas plantas para sobreviver.

Uma única espécie de abelha pode polinizar diversas espécies de vegetais
Uma única espécie de abelha pode polinizar dezenas de plantas.

Talvez mais importante ainda seja sua contribuição para a diversidade genética das plantas. Polinizadores eficazes garantem que as plantas troquem material genético entre populações distantes, aumentando a variabilidade e a capacidade de adaptação às mudanças ambientais e resistência a “pragas”. Em tempos de mudanças climáticas aceleradas, essa função se torna ainda mais crítica.

Em termos de produção de alimentos, os polinizadores são parte integrante das práticas agrícolas, pois aproximadamente 35% das culturas alimentares do mundo, incluindo frutas, vegetais e nozes essenciais, dependem de polinizadores para uma reprodução bem-sucedida. Estudos mostram resultados impressionantes em propriedades que investem na presença de abelhas nativas. Culturas como soja e algodão mostram aumentos significativos de produtividade quando há polinizadores eficientes trabalhando. A diferença não está apenas na quantidade de frutos produzidos, mas também na qualidade – isso deve-se ao aumento da polinização cruzada e redução na taxa de abortamento floral.

Práticas agrícolas sustentáveis têm se mostrado essenciais para a preservação dos polinizadores, ao mesmo tempo em que mantêm a produtividade dos sistemas agrícolas. Estratégias como o cultivo de plantas floríferas e a conservação de áreas naturais favorecem a presença desses agentes ecológicos, promovendo benefícios como controle biológico de pragas, melhoria da fertilidade do solo e valorização comercial dos produtos agrícolas.

Os números da economia dos polinizadores são impressionantes. Embora os dados específicos para o Rio Grande do Norte ainda não sejam contabilizados, sabemos que o valor dos serviços de polinização no Brasil chega a bilhões de reais anuais. No Sul do país, estados como Santa Catarina registraram R$ 40,9 bilhões em produção agrícola em 2020, com uma parcela significativa dependente dos serviços de polinização realizados por abelhas.

Nesse contexto, a apicultura vem ganhando destaque não apenas pela produção de mel, mas também pelo papel que desempenha na manutenção dos serviços ecossistêmicos. Apicultores que investem em manejo responsável — como a apicultura migratória — e mantêm boas redes de colaboração conseguem colônias mais saudáveis, maior produtividade e oportunidades comerciais vantajosas. Além disso, essas práticas contribuem diretamente para a conservação ambiental e fortalecem a economia rural.

Apicultura contribui para polinização de culturas agrícolas
Apicultura contribui para polinização de plantas da região

A atividade apícola, portanto, representa uma alternativa estratégica para o desenvolvimento sustentável. Ao garantir a polinização das lavouras e oferecer produtos de valor agregado, apicultores experientes impulsionam a renda familiar e promovem a saúde dos ecossistemas. A adoção de técnicas adequadas de manejo e conservação não apenas melhora os resultados financeiros, como também assegura a continuidade dos serviços ecológicos fundamentais para a agricultura e a biodiversidade.

Os Desafios da Conservação: O Conhecimento Que Falta e as Ameaças Imediatas

Agora chegamos em ponto crítico e preocupante: ainda sabemos muito pouco sobre nossos polinizadores. Existem algumas lacunas significativas de conhecimento sobre sua distribuição e papéis ecológicos no RN, especialmente quando comparamos com o que sabemos sobre polinizadores de regiões temperadas.

As avaliações de conservação são urgentes não apenas por uma questão acadêmica, mas por necessidade prática. A perda contínua de habitats devido às atividades humanas acontece muito mais rapidamente do que nossa capacidade de estudar e entender essas espécies e suas relações com as plantas. É como tentar catalogar uma biblioteca enquanto ela está pegando fogo. Logo, se faz necessário ações imediatas de conservação para manter o equilíbrio ecológico e garantir a sobrevivência das populações de polinizadores.

Infelizmente, as populações de polinizadores no Rio Grande do Norte e em nível global enfrentam pressões crescentes. O declínio dessas espécies não é apenas uma questão ambiental abstrata – tem consequências econômicas diretas, especialmente para pequenos agricultores que dependem da polinização natural para suas colheitas.

desmatamento afeta aos animais polinizadores
Desmatamento resulta em perda de habitat para polinizadores.

A urbanização, a expansão agrícola e o desmatamento resultaram em considerável perda de habitat para os polinizadores. À medida que os ambientes naturais são substituídos por estruturas artificiais ou monoculturas, os habitats restantes tornam-se fragmentados, isolando as populações de polinizadores. Essa fragmentação não apenas reduz a disponibilidade de alimentos e locais de nidificação, mas também diminui a diversidade genética, tornando essas populações mais vulneráveis à extinção.

O uso de pesticidas, particularmente neonicotinóides, representa uma grande ameaça para os polinizadores. Esses produtos químicos podem ser tóxicos, mesmo em doses subletais, prejudicando a capacidade de forrageamento, navegação e reprodução. A exposição a pesticidas pode enfraquecer o sistema imunológico dos polinizadores, tornando-os mais suscetíveis a doenças e contribuindo ainda mais para seu declínio.

Abelha morta por excesso de pesticidas neonicotinóides
Abelha morta

As mudanças climáticas afetam significativamente as populações de polinizadores por meio de padrões alterados de temperatura e precipitação. Essas mudanças podem interromper o momento da floração e a atividade dos polinizadores, criando incompatibilidades que impedem a polinização bem-sucedida. Por exemplo, algumas plantas podem florescer mais cedo devido a temperaturas mais altas, deixando os polinizadores sem fontes de alimento quando emergem.

Além disso, o aumento das temperaturas está ligado ao declínio de espécies específicas, como as abelhas, que viram as populações diminuírem em quase 50% desde a década de 1970 na América do Norte. Se não tomarmos medidas urgentes, poderemos ver cenários similares no Nordeste brasileiro.

Espécies invasoras, incluindo pragas e doenças nocivas, representam riscos significativos para os polinizadores nativos. Por exemplo, o ácaro Varroa é conhecido por devastar as populações de abelhas, enquanto outras espécies não nativas podem superar a flora local, reduzindo os recursos disponíveis para os polinizadores. Além disso, os organismos causadores de doenças podem se espalhar das espécies invasoras para polinizadores nativos, exacerbando os estressores existentes, como perda de habitat e exposição a pesticidas.

Caminhos para a Conservação: Ação Urgente e Soluções Inovadoras para Garantir o Futuro

O declínio das populações de polinizadores representa uma ameaça a diversos serviços ecossistêmicos, levando a várias iniciativas voltadas para sua preservação. A aprovação de leis como a Lei de Salvamento dos Polinizadores da América de 2023 mostra que é possível criar marcos regulatórios eficazes. Essa legislação visa suspender o uso de pesticidas neonicotinóides nocivos e estabelecer conselhos de proteção aos polinizadores. No Brasil, embora existam iniciativas regulatórias e projetos de lei em alguns estados, ainda carecemos de uma legislação nacional robusta e específica voltada à proteção dos polinizadores. As partes interessadas locais e os formuladores de políticas públicas no estado do Rio Grande do Norte devem ser incentivadas a adotar medidas legislativas semelhantes para promover práticas sustentáveis que protejam também os polinizadores.

Biodiversidade do Bioma Caatinga do Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras
Paisagem com vista parcial da vegetação de Caatinga e Serra Sr. João em Cerro Corá(RN), área que faz parte do Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras.

Além das ações legislativas, há uma forte ênfase na restauração e gestão de habitats. Os conservacionistas defendem a criação de áreas protegidas, o que de fato é essencial, como o proposto Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras(no caso do RN), que visa salvaguardar habitats críticos para polinizadores, outros animais ameaçados de extinção e promover o desenvolvimento sustentável. Mas a conservação daqueles não pode se limitar exclusivamente às áreas de unidades de conservação – precisa ser integrada na paisagem produtiva. A implementação de práticas agrícolas favoráveis aos polinizadores exige a participação do poder público e privado em parceria com a comunidade local, contribuindo para a construção de planos de ação alicerçados na sustentabilidade e conservação das espécies polinizadoras. Por exemplo, programas que reconhecem e certificam fazendas por suas práticas amigáveis aos polinizadores não apenas beneficiam o meio ambiente, mas também criam oportunidades de mercado para produtores conscientes. Outrossim, o monitoramento das populações de polinizadores e suas interações com o ecossistema será essencial para avaliar a eficácia das práticas implementadas, contribuindo para tomada de futuras decisões em relação ao manejo daquelas espécies e das culturas agrícolas por elas polinizadas.

Através desses esforços conjuntos de conservação, o Rio Grande do Norte tem potencial para se tornar um modelo de coexistência entre desenvolvimento econômico e conservação da biodiversidade. A proteção das espécies polinizadoras não é apenas uma questão ambiental – é uma questão de segurança alimentar, estabilidade econômica e sustentabilidade a longo prazo.

O desafio é grande, mas não impossível. Precisamos de mais pesquisa, mais conscientização, mais políticas públicas adequadas e, principalmente, mais ação coordenada entre todos os setores da sociedade. Os polinizadores do Rio Grande do Norte e do mundo merecem – e precisam – do nosso melhor esforço. Afinal, seu futuro está diretamente ligado ao nosso.

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Referências de Imagens não autorais

  • Abelha no néctar da flor amarela Foto de Pixabay. Disponível em:

  • Joaninha sobre flor amarela Foto de József Szabó, disponível em:

  • Beija-flor voando sobre flor Foto de Richard Sagredo, disponível em:

  • Morcego Foto de Birger Strahl, disponível em:

  • Apicultor com abelhas Imagem de Michael Strobel por Pixabay. Disponível em:

  • Desmatamento – toco de árvore Imagem de Hans por Pixabay. Disponível em:

  • Abelhas mortas por pesticidas Imagem de rostichep por Pixabay. Disponível em: