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terça-feira, 19 de agosto de 2025

Os Pequenos Gigantes: Como os Polinizadores Garantem o Futuro de Nossos Ecossistemas e Agricultura

Polinização: Um Serviço da Natureza Essencial para a Vida no Planeta e a Produção de Alimentos

Ilustração da polinização mostrando as partes da flor:estigma, óvario e óvulo.
O polinizador transporta o pólen até o estigma da flor, onde germina e permite a fecundação no ovário...

          A polinização consiste no transporte de grãos de pólen dos órgãos reprodutivos masculinos para os femininos das flores, constituindo um mecanismo fundamental para a reprodução vegetal que culmina na produção de frutos e sementes. Este processo representa um serviço ecossistêmico multifacetado, abrangendo funções regulatórias, de provisão e culturais, caracterizando-se como uma interação ecológica de amplos benefícios para a humanidade. Estes incluem a preservação e promoção da diversidade genética em populações vegetais nativas, sustentando a biodiversidade e as funções ecossistêmicas, a garantia de fornecimento sustentável e diversificado de produtos como frutos, sementes, mel e derivados, além da valorização de conhecimentos tradicionais e aspectos culturais associados (IPBES 2016; Costanza et al. 2017). 

O valor econômico global dos serviços de polinização evidencia sua importância estratégica, especialmente na produção alimentar. Estimativas apontam que esse serviço ecossistêmico movimenta entre US$ 235 bilhões e US$ 577 bilhões anualmente em escala mundial (IPBES 2016). Enquanto no Brasil estima-se que o serviço de polinização contribuía diretamente com cerca de R$ 43 bilhões por ano em valor agregado conforme dados de 2018 (Freitas et al.,2023). 

A reprodução da maioria das espécies vegetais, tanto cultivadas quanto silvestres, depende da polinização zoófila(por animal). Os principais agentes polinizadores são predominantemente insetos, incluindo abelhas, coleópteros(besouros), dípteros(moscas), lepidópteros (borboletas e mariposas) e vespas. Porém também existem vários animais vertebrados que atuam como polinizadores, como algumas aves, quirópteros (morcegos), mamíferos terrestres e répteis como lagartos. Dentre todos os animais as abelhas destacam-se como o grupo de polinizadores de maior relevância agrícola, isso porque elas visitam mais de 90% das 107 principais culturas agrícolas mundiais já catalogadas cientificamente (Klein et al. 2007). O desaparecimento das abelhas seria um golpe profundo na biodiversidade e na segurança alimentar. Sem polinização, muitas plantas deixariam de se reproduzir, afetando ecossistemas inteiros e ameaçando a subsistência humana.

A variedade de Polinizadores no Rio Grande do Norte: Mais do que um Espetáculo Natural

Diversidade de polinizadores: abelhas, besouros, aves, morcegos e muito mais.

Quando percorremos as paisagens do Rio Grande do Norte, desde as áreas mais áridas da Caatinga até os remanescentes de Mata Atlântica, é impossível não se impressionar com a intensa atividade dos polinizadores. Abelhas nativas zumbem entre as flores de diversas plantas, beija-flores voam velozes de flor em flor , borboletas dançam sobre a vegetação ripária em busca de néctar, e muitos morcegos desempenham seu papel silencioso durante a noite. Esta diversidade de interações não é apenas bela de se observar – ela é fundamental para a sobrevivência dos ecossistemas e da agricultura. 

O Rio Grande do Norte está inserido numa das regiões mais biodiversas do planeta, os Neotrópicos, mas essa riqueza muitas vezes passa despercebida. Os polinizadores do Rio Grande do Norte são verdadeiros "viajantes" entre diferentes mundos vegetais. Eles transitam por pelo menos seis tipos distintos de vegetação em terras potiguares, cada um oferecendo recursos únicos. Essa mobilidade entre habitats é crucial – muitas espécies dependem de plantas específicas para diferentes necessidades: algumas fornecem néctar de alta qualidade, outras pólen rico em proteínas, e algumas ainda servem como locais de nidificação. A natureza terrestre e semi-arborícola de muitos polinizadores locais é particularmente fascinante. Eles conseguem explorar desde o chão da Caatinga até o dossel da Mata Atlântica, aproveitando microhabitats que passariam despercebidos por espécies menos versáteis. Cada grupo ocupa nichos específicos, aproveitando recursos florais em diferentes horários e alturas da vegetação. 

Sabe-se que diversas espécies polinizadoras — ou com potencial para tal — ocorrem em território potiguar. Entre os vertebrados, destacam-se os morcegos e as aves. Dentre os quirópteros, o morcego-beija-flor (Glossophaga soricina) atua na polinização de plantas como a pata-de-vaca (Bauhinia sp.) e o xique-xique (Pilosocereus gounellei). Outras espécies relevantes de morcegos polinizadores incluem Lonchophylla mordax e Xeronycteris vieirai, esta última endêmica da Caatinga, associada à polinização do xique-xique (Pilosocereus gounellei) e do mandacaru (Cereus jamacaru).

beija-flores como aves polinizadoras da fauna potiguar
beija-flor-de-garganta-verde e beija-flor-de-barriga-branca visitando flores

No grupo das aves, os beija-flores são os principais agentes polinizadores. Entre eles, destacam-se em nossa fauna: Chionomesa fimbriata (beija-flor-de-garganta-verde), Chrysolampis mosquitos (beija-flor-vermelho), Eupetomena macroura (beija-flor-tesoura)Chlorostilbon lucidus (besourinho-de-bico-vermelho), este último considerado o principal polinizador do coroa-de-frade (Melocactus zehntneri).

Entre os invertebrados, o Rio Grande do Norte abriga uma diversidade magnífica, com destaque especial para as abelhas. A espécie Apis mellifera desempenha papel fundamental na polinização de culturas agrícolas como caju (Anacardium occidentale), café (Coffea arabica), maçã (Malus domestica), melão (Cucumis melo) e soja (Glycine max), entre outras de interesse econômico.

Abelhas Apis desempenhando papel de polinizadores na fauna potiguar
abelhas exóticas( A. mellifera) coletando pólen e possivelmente participando da polinização

A abelha jandaíra (Melipona subnitida) também poliniza o caju, além de goiaba (Psidium guajava), pimentão (Capsicum annuum), catanduva(Pityrocarpa moniliformis), jurema-preta (Mimosa tenuiflora), marmeleiro e jucá. Já a uruçu (Melipona scutellaris) está associada à polinização do abacate (Persea americana), pimentão, pitanga (Eugenia uniflora) e canafístula, entre outras espécies. A arapuá (Trigona spinipes) visita flores de abóbora (Cucurbita moschata), caju, girassol (Helianthus annuus), laranja (Citrus sinensis), melancia (Citrullus lanatus) e tamarindo (Tamarindus indica), entre muitas outras. A mamangava-pardinha (Centris aenea) é polinizadora da acerola (Malpighia emarginata), caju, goiaba e tamarindo. A mamangava-de-toco (Xylocopa grisescens) atua na polinização do maracujá-amarelo (Passiflora edulis), enquanto Eulaema nigrita visita o maracujá-doce (Passiflora alata), o maracujá-amarelo, urucum (Bixa orellana) e pau-d’arco (Tabebuia aurea), entre outras espécies.

abelhas nativas do brasil como polinizadores essenciais para a biodiversidade
Abelhas nativas participando da polinização

Além das abelhas, os besouros ocupam posição de destaque entre os insetos polinizadores, sendo o quarto grupo mais relevante nesse papel e o segundo mais frequente visitante de flores em regiões tropicais, conforme apontado por Bawa (1990) e Ollerton (2017). Estima-se que estejam diretamente envolvidos na reprodução de cerca de 2.000 espécies de angiospermas. No Brasil, pequenos besouros das famílias Chrysomelidae, Curculionidae, Nitidulidae e Staphylinidae, além de escarabeídeos da tribo Cyclocephalini, atuam como polinizadores especializados de palmeiras, anonáceas e aráceas, tanto em ecossistemas naturais quanto em áreas agrícolas.

besouros atuando como polinizadores na fauna do RN
besouros com potencial de polinização visitando flores 

Outro grupo relevante é o dos lepidópteros (borboletas e mariposas), que também contribuem para a polinização. Algumas espécies notáveis incluem: Heraclides thoas brasiliensis (borboleta caixão-de-defunto)Phoebis sennae (borboleta-amarela)AsciamonusteEurema elatheaHeliconius ethilla narcaea (borboleta maria-boba)Heliconius erato phyllis (borboleta castanha-vermelha)Parides sp., entre outras.

borboletas e mariposas atuam como polinizadores e contribuem para a biodiversidade
Exemplos de Borboletas que ajudam a manter a biodiversidade ao transportar pólen entre flores

Por fim, vespas sociais e solitárias também são visitantes florais e potenciais polinizadores. Entre os marimbondos com esse papel, destacam-se Polistes canadensis (marimbondo-caboclo)Polybia occidentalis occidentalis (marimbondo-fura-olho).

O Papel Fundamental dos Polinizadores: Ecologia, Agricultura e Sustentabilidade

Os polinizadores desempenham um papel vital na manutenção da saúde e estabilidade dos ecossistemas. Eles são responsáveis pela reprodução de mais de 75% das plantas com flores, o que é essencial para sustentar a biodiversidade e apoiar os sistemas de produção de alimentos. A presença de polinizadores facilita a reprodução das plantas, resultando na produção de frutos, sementes e outros materiais vegetais que são cruciais tanto para a vida selvagem quanto para a dieta humana.

As contribuições ecológicas dos polinizadores vão além da mera reprodução; eles melhoram significativamente a saúde do ecossistema. Ao facilitar a reprodução das plantas, os polinizadores ajudam a sustentar habitats para várias espécies, que dependem de plantas com flores para alimentação e abrigo. Uma única espécie de abelha pode polinizar dezenas de espécies vegetais diferentes, que por sua vez alimentam e abrigam centenas de outras espécies animais. O declínio das populações de polinizadores pode ter efeitos em cascata em ecossistemas inteiros, afetando não apenas as plantas que polinizam, mas também as inúmeras espécies que dependem dessas plantas para sobreviver.

Uma única espécie de abelha pode polinizar diversas espécies de vegetais
Uma única espécie de abelha pode polinizar dezenas de plantas.

Talvez mais importante ainda seja sua contribuição para a diversidade genética das plantas. Polinizadores eficazes garantem que as plantas troquem material genético entre populações distantes, aumentando a variabilidade e a capacidade de adaptação às mudanças ambientais e resistência a “pragas”. Em tempos de mudanças climáticas aceleradas, essa função se torna ainda mais crítica.

Em termos de produção de alimentos, os polinizadores são parte integrante das práticas agrícolas, pois aproximadamente 35% das culturas alimentares do mundo, incluindo frutas, vegetais e nozes essenciais, dependem de polinizadores para uma reprodução bem-sucedida. Estudos mostram resultados impressionantes em propriedades que investem na presença de abelhas nativas. Culturas como soja e algodão mostram aumentos significativos de produtividade quando há polinizadores eficientes trabalhando. A diferença não está apenas na quantidade de frutos produzidos, mas também na qualidade – isso deve-se ao aumento da polinização cruzada e redução na taxa de abortamento floral.

Práticas agrícolas sustentáveis têm se mostrado essenciais para a preservação dos polinizadores, ao mesmo tempo em que mantêm a produtividade dos sistemas agrícolas. Estratégias como o cultivo de plantas floríferas e a conservação de áreas naturais favorecem a presença desses agentes ecológicos, promovendo benefícios como controle biológico de pragas, melhoria da fertilidade do solo e valorização comercial dos produtos agrícolas.

Os números da economia dos polinizadores são impressionantes. Embora os dados específicos para o Rio Grande do Norte ainda não sejam contabilizados, sabemos que o valor dos serviços de polinização no Brasil chega a bilhões de reais anuais. No Sul do país, estados como Santa Catarina registraram R$ 40,9 bilhões em produção agrícola em 2020, com uma parcela significativa dependente dos serviços de polinização realizados por abelhas.

Nesse contexto, a apicultura vem ganhando destaque não apenas pela produção de mel, mas também pelo papel que desempenha na manutenção dos serviços ecossistêmicos. Apicultores que investem em manejo responsável — como a apicultura migratória — e mantêm boas redes de colaboração conseguem colônias mais saudáveis, maior produtividade e oportunidades comerciais vantajosas. Além disso, essas práticas contribuem diretamente para a conservação ambiental e fortalecem a economia rural.

Apicultura contribui para polinização de culturas agrícolas
Apicultura contribui para polinização de plantas da região

A atividade apícola, portanto, representa uma alternativa estratégica para o desenvolvimento sustentável. Ao garantir a polinização das lavouras e oferecer produtos de valor agregado, apicultores experientes impulsionam a renda familiar e promovem a saúde dos ecossistemas. A adoção de técnicas adequadas de manejo e conservação não apenas melhora os resultados financeiros, como também assegura a continuidade dos serviços ecológicos fundamentais para a agricultura e a biodiversidade.

Os Desafios da Conservação: O Conhecimento Que Falta e as Ameaças Imediatas

Agora chegamos em ponto crítico e preocupante: ainda sabemos muito pouco sobre nossos polinizadores. Existem algumas lacunas significativas de conhecimento sobre sua distribuição e papéis ecológicos no RN, especialmente quando comparamos com o que sabemos sobre polinizadores de regiões temperadas.

As avaliações de conservação são urgentes não apenas por uma questão acadêmica, mas por necessidade prática. A perda contínua de habitats devido às atividades humanas acontece muito mais rapidamente do que nossa capacidade de estudar e entender essas espécies e suas relações com as plantas. É como tentar catalogar uma biblioteca enquanto ela está pegando fogo. Logo, se faz necessário ações imediatas de conservação para manter o equilíbrio ecológico e garantir a sobrevivência das populações de polinizadores.

Infelizmente, as populações de polinizadores no Rio Grande do Norte e em nível global enfrentam pressões crescentes. O declínio dessas espécies não é apenas uma questão ambiental abstrata – tem consequências econômicas diretas, especialmente para pequenos agricultores que dependem da polinização natural para suas colheitas.

desmatamento afeta aos animais polinizadores
Desmatamento resulta em perda de habitat para polinizadores.

A urbanização, a expansão agrícola e o desmatamento resultaram em considerável perda de habitat para os polinizadores. À medida que os ambientes naturais são substituídos por estruturas artificiais ou monoculturas, os habitats restantes tornam-se fragmentados, isolando as populações de polinizadores. Essa fragmentação não apenas reduz a disponibilidade de alimentos e locais de nidificação, mas também diminui a diversidade genética, tornando essas populações mais vulneráveis à extinção.

O uso de pesticidas, particularmente neonicotinóides, representa uma grande ameaça para os polinizadores. Esses produtos químicos podem ser tóxicos, mesmo em doses subletais, prejudicando a capacidade de forrageamento, navegação e reprodução. A exposição a pesticidas pode enfraquecer o sistema imunológico dos polinizadores, tornando-os mais suscetíveis a doenças e contribuindo ainda mais para seu declínio.

Abelha morta por excesso de pesticidas neonicotinóides
Abelha morta

As mudanças climáticas afetam significativamente as populações de polinizadores por meio de padrões alterados de temperatura e precipitação. Essas mudanças podem interromper o momento da floração e a atividade dos polinizadores, criando incompatibilidades que impedem a polinização bem-sucedida. Por exemplo, algumas plantas podem florescer mais cedo devido a temperaturas mais altas, deixando os polinizadores sem fontes de alimento quando emergem.

Além disso, o aumento das temperaturas está ligado ao declínio de espécies específicas, como as abelhas, que viram as populações diminuírem em quase 50% desde a década de 1970 na América do Norte. Se não tomarmos medidas urgentes, poderemos ver cenários similares no Nordeste brasileiro.

Espécies invasoras, incluindo pragas e doenças nocivas, representam riscos significativos para os polinizadores nativos. Por exemplo, o ácaro Varroa é conhecido por devastar as populações de abelhas, enquanto outras espécies não nativas podem superar a flora local, reduzindo os recursos disponíveis para os polinizadores. Além disso, os organismos causadores de doenças podem se espalhar das espécies invasoras para polinizadores nativos, exacerbando os estressores existentes, como perda de habitat e exposição a pesticidas.

Caminhos para a Conservação: Ação Urgente e Soluções Inovadoras para Garantir o Futuro

O declínio das populações de polinizadores representa uma ameaça a diversos serviços ecossistêmicos, levando a várias iniciativas voltadas para sua preservação. A aprovação de leis como a Lei de Salvamento dos Polinizadores da América de 2023 mostra que é possível criar marcos regulatórios eficazes. Essa legislação visa suspender o uso de pesticidas neonicotinóides nocivos e estabelecer conselhos de proteção aos polinizadores. No Brasil, embora existam iniciativas regulatórias e projetos de lei em alguns estados, ainda carecemos de uma legislação nacional robusta e específica voltada à proteção dos polinizadores. As partes interessadas locais e os formuladores de políticas públicas no estado do Rio Grande do Norte devem ser incentivadas a adotar medidas legislativas semelhantes para promover práticas sustentáveis que protejam também os polinizadores.

Biodiversidade do Bioma Caatinga do Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras
Paisagem com vista parcial da vegetação de Caatinga e Serra Sr. João em Cerro Corá(RN), área que faz parte do Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras.

Além das ações legislativas, há uma forte ênfase na restauração e gestão de habitats. Os conservacionistas defendem a criação de áreas protegidas, o que de fato é essencial, como o proposto Refúgio de Vida Silvestre Serra das Araras(no caso do RN), que visa salvaguardar habitats críticos para polinizadores, outros animais ameaçados de extinção e promover o desenvolvimento sustentável. Mas a conservação daqueles não pode se limitar exclusivamente às áreas de unidades de conservação – precisa ser integrada na paisagem produtiva. A implementação de práticas agrícolas favoráveis aos polinizadores exige a participação do poder público e privado em parceria com a comunidade local, contribuindo para a construção de planos de ação alicerçados na sustentabilidade e conservação das espécies polinizadoras. Por exemplo, programas que reconhecem e certificam fazendas por suas práticas amigáveis aos polinizadores não apenas beneficiam o meio ambiente, mas também criam oportunidades de mercado para produtores conscientes. Outrossim, o monitoramento das populações de polinizadores e suas interações com o ecossistema será essencial para avaliar a eficácia das práticas implementadas, contribuindo para tomada de futuras decisões em relação ao manejo daquelas espécies e das culturas agrícolas por elas polinizadas.

Através desses esforços conjuntos de conservação, o Rio Grande do Norte tem potencial para se tornar um modelo de coexistência entre desenvolvimento econômico e conservação da biodiversidade. A proteção das espécies polinizadoras não é apenas uma questão ambiental – é uma questão de segurança alimentar, estabilidade econômica e sustentabilidade a longo prazo.

O desafio é grande, mas não impossível. Precisamos de mais pesquisa, mais conscientização, mais políticas públicas adequadas e, principalmente, mais ação coordenada entre todos os setores da sociedade. Os polinizadores do Rio Grande do Norte e do mundo merecem – e precisam – do nosso melhor esforço. Afinal, seu futuro está diretamente ligado ao nosso.

Referências

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Referências de Imagens não autorais

  • Abelha no néctar da flor amarela Foto de Pixabay. Disponível em:

  • Joaninha sobre flor amarela Foto de József Szabó, disponível em:

  • Beija-flor voando sobre flor Foto de Richard Sagredo, disponível em:

  • Morcego Foto de Birger Strahl, disponível em:

  • Apicultor com abelhas Imagem de Michael Strobel por Pixabay. Disponível em:

  • Desmatamento – toco de árvore Imagem de Hans por Pixabay. Disponível em:

  • Abelhas mortas por pesticidas Imagem de rostichep por Pixabay. Disponível em:

domingo, 20 de abril de 2025

Olhos de Águia em Corpo de Sabiá? Desvende os Mistérios do Gaviãozinho!

   O gaviãozinho, cientificamente denominado Gampsonyx swainsonii, é conhecido por diversos nomes populares ao longo de sua ocorrência, como gavião-de-touca, gavião-da-cara-preta, gavião-da-cara-amarela, gavião-boiada, papa-lagartixa, branquinho e cri-cri. Ele pertence a família Accipitridae, da qual também fazem parte por exemplos, a Águia-serrana, o Gavião-caboclo e o Gavião-caramujeiro.

  A denominação "gaviãozinho" reflete com precisão sua natureza, pois trata-se da menor espécie de gavião e rapinante diurno encontrada no Brasil, possuindo um comprimento total que varia de 20 cm nos machos até 28 cm nas fêmeas, com peso entre 80,5 e 113 gramas e envergadura de 45 a 55cm. Não existe dimorfismo sexual. De maneira geral indivíduos adultos apresentam plumagem branca na região ventral e dorso cinza-ardósia, asas pontiagudas, cabeça com testa e bochechas creme-amareladas, bico curto e garras consideravelmente fortes. Uma característica distintiva é seu hábito de sacudir a cauda quando pousado.

   A dieta do gaviãozinho(Gampsonyx swainsonii) é variada, incluindo insetos, pequenos répteis (como os gêneros AmeivaAmeivulaIguanaMicrolophusPhyllodactylusPolychrus e Tropidurus), pequenas aves (como os gêneros AgelasticusColumbinaSicalis e Zonotrichia) e roedores. É uma ave que geralmente se comporta de maneira solitária, permanecendo em poleiros(árvores, mourões de cerca, postes, fios de eletricidade) de onde parte para capturar suas presas, seja em voos rápidos ou baixos. Frequentemente, pode ser observado planando a grandes alturas, descrevendo círculos no céu, o que pode levá-lo a ser confundido com uma andorinha se observado à distância.

  Seus hábitos reprodutivos são bem definidos, com reprodução registrada entre os meses de novembro e maio. O ninho construído é uma plataforma rasa de galhos finos, onde a fêmea deposita de dois a quatro ovos. A incubação dura cerca de 28 a 30 dias, e após a eclosão, os filhotes permanecem no ninho por um período de 33 a 35 dias. Ambos os adultos demonstram um comportamento de defesa ativa do ninho contra qualquer intruso que se aproxime.

   O gaviãozinho(G. swainsonii) habita diversas áreas abertas e semiabertas, desde beiras de rios, lagos, fragmentos florestais, de cerrado e restinga, além de área antropizada como próximo a estradas. Sua distribuição geográfica é ampla, estendendo-se da América Central até o norte da Argentina, abrangendo quase todos os estados do Brasil, com ocorrências até altitudes de 1.200 metros. É considerada uma espécie residente em território brasileiro e independente de ambientes estritamente florestais. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, observei essa espécie nas mesorregiões Agreste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar, ou seja, em quase todo território norte-rio-grandense.

Referências

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https://www.taxeus.com.br/lista/13520 Acesso em 19 de abr. de 2025.

segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025

De Erva Daninha a Tesouro Medicinal: Os Segredos da planta erva-de-touro Tridax procumbens L


   A planta Tridax procumbens L. pertence à família Asteraceae sendo conhecida popularmente como erva-de-touro, margaridinha e olho-de-ovelha. Sua ampla dispersão e capacidade de adaptação fazem com que ela seja encontrada em diversas regiões do Brasil e do mundo.

Características da espécie

   A Tridax procumbens é uma espécie de porte herbáceo a qual pode atingir cerca de 20cm de altura, sendo anual ou bianual, apresentando caule na cor verde ou avermelhado. As folhas são opostas, curto-pecioladas, com formato ovalado ou losangular, margens serreadas e ambas as faces são pilosas. A inflorescência é do tipo capítulo isolado, sustentado por um longo eixo piloso. Suas flores podem ser masculinas, femininas ou hermafroditas. As masculinas se localizam na periferia do capítulo e apresentam lígulas brancas ou amarelas, podendo ser tridentadas, bidentadas ou inteiras. No centro, encontram-se as flores hermafroditas com corola amarela. Quando maduras, as brácteas protetoras se rompem, permitindo a dispersão dos frutos do tipo aquênio, que possuem um tufo de pelos sedosos. Sua propagação ocorre via sementes, e a polinização é realizada principalmente por abelhas, que buscam néctar e pólen.

Utilidades e Importância

   Embora muitas vezes seja considerada uma erva daninha devido ao seu alto potencial infestante em lavouras, a erva-de-touro(Tridax procumbens) possui grande valor medicinal e ecológico. Na medicina tradicional, seus extratos são utilizados como anticoagulante, antifúngico, repelente de insetos, expectorante, antidiarreico e cicatrizante. Além disso, estudos científicos indicam que possui efeitos hipotensores, hepatoprotetores, imunomoduladores, antibióticos, antioxidantes, anti-inflamatórios e antitumorais. A planta também fornece alimento para pequenos animais artrópodes(insetos) como abelhas, especialmente a abelha-européia (Apis mellifera), os quais desempenham papel relevante na polinização.

Distribuição geográfica e Ocorrência no Brasil

   A erva-de-touro(Tridax procumbens) é uma espécie originária da América Central, mas atualmente encontra-se distribuída em grande parte das regiões tropicais e subtropicais do planeta, incluindo todas as regiões do Brasil. Possui ocorrência confirmada nos estados das regiões Norte (Pará, Rondônia, Roraima, Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Paraíba, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Sergipe), Centro-Oeste (Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso), Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo) e Sul (Paraná, Rio Grande do Sul, Santa Catarina). Está presente em diferentes domínios fitogeográficos, como Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar, Agreste Potiguar e Central Potiguar, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências

AGRAWAL, S.S., TALELE, G.S., SURANA, S.J. Antioxidant activity of fractions from Tridax procumbens. Journal of Pharmacy Research 2, 71–73,2009.

ALGARIRI, K., MENG, K.Y., ATANGWHO, I.J., ASMAWI, M.Z., SADIKUN, A., MURUGAIYAH, V., ISMAI, N., 2013. Hypoglycemic and anti-hyperglycemic study of Gynura procumbens leaf extracts. Asian Pacific Journal of Tropical Medicine 3, 358– 366, 2013.

GANDARA, A.; Barbosa, M.L. Tridax in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB16365>. Acesso em: 15 fev. 2025.

KLEINERT AMP, Martínez CAM, Luz CLS et al. (2020) Plantas e pólen em áreas urbanas: uso no paisagismo amigável aos polinizadores. In: Kleinert AMP, Silva CI (eds) Rio Claro: CISE.

MOREIRA, Henrique José da Costa. Manual de identificação de plantas infestantes: hortifrúti. Bragança – São Paulo: FMC Agricultural Products, 2011.

POLICEGOUDRA, R.S., CHATTOPADHYAY, P., ARADHYA, S.M., SIVASWAMY, R., SINGH, L., VEE, V. Inhibitory effect of Tridax procumbens against human skin pathogens. Journal of Herbal Medicine 3, 1–17,2014.

domingo, 29 de dezembro de 2024

Descubra os segredos da borboleta asa de folha avermelhada "Fountainea halice moretta (Druce, 1877)"


    A borboleta asa de folha avermelhada(Fountainea halice morettapertencente a família Nymphalidae e possui dimorfismo sexual, tendo os machos o dorso das asas arroxeado sem manchinhas brancas, estas estão presentes no dorso das fêmeas. Quando pousada em meio a vegetação do bioma Caatinga camufla-se muito bem, pois se assemelha com uma folha(seca).

   Essa borboleta na fase adulta(alada) é frugívora, ou seja, alimenta-se principalmente de frutos fermentados, enquanto na sua fase larval(lagarta) ela consome folhas principalmente de plantas do gênero Croton spp., as quais são tidas como suas hospedeiras.

   Em nível de espécie ela tem ocorrência confirmada do México ao norte da América do Sul, sendo encontrada em florestas tropicais, podendo ser observada em borda de mata, no interior de mata fechada e até em área aberta.

  Apesar de Fountainea halice moretta ser considerada como uma subespécie endêmica da Caatinga(que só ocorre nesse bioma), ela já foi registrada em áreas de transição entre a Caatinga e a Mata Atlântica. Em algumas regiões do Semiárido brasileiro ela é relativamente comum. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste potiguar(foto).  


Referências

ASSIS, Pueblo Pêblo Batista de Araújo. Relação do tamanho e da coloração com a ocorrência de borboletas nordestinas em diferentes mirco-habitats. Orientador: Daniel Pessoa. 2024. 57f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ecologia), Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2024.

DANTAS, C., Zacca, T. and Bravo, F. 2021. Checklist of butterflies (Lepidoptera: Papilionoidea) of an urban area of Caatinga-Atlantic Forest ecotone in Bahia, Brazil. EntomoBrasilis. 14, (Oct. 2021), e959. DOI:https://doi.org/10.12741/ebrasilis.v14.e959.

KERPEL, Solange Maria Borboletas da ESEC Seridó : guia de espécies / Solange Maria Kerpel, Larissa Nascimento dos Santos, Adalberto Dantas de Medeiros ; coordenação Márcio Zikán Cardoso. -- 1. ed. -- Natal, RN : Ed. dos Autores, 2022. -- (Borboletas no nordeste ; 1).

KERPEL, S. et al. 2014. Borboletas do Semiárido: conhecimento atual e contribuições do PPBio In: Bravo, F. et al.(Orgs.). Artrópodes do Semiárido: Biodiversidade e conservação. Vol.: 1 Publisher: Printmidia P. 245-272.

domingo, 13 de outubro de 2024

Grão-de-galo(Cordia superba) uma espécie versátil e adaptável da flora brasileira


   Planta conhecida popularmente como acoará-muru, árvore-de-ranho, babosa branca, baba-de-boi, baba-de-boi-preta, carapiá, crista-de-galo, grão-de-galo, grão-de-porco, jangada, jangada-do-campo, jagoará-muru, louro, olho-de moça, pau-jangada, ramela-de-cachorro e tajaçu-caraplá. Entretanto seu nome científico é único, Cordia superba Cham.. Pertence a família Cordiaceae.

   Grão-de-galo(Cordia superba) é uma espécie de planta de porte arbustiva a arbórea sendo geralmente considerada de porte médio, podendo atingir 10 metros de altura, apresentando um tronco de até 30 centímetros de diâmetro. Suas folhas são simples e ásperas ao toque, enquanto suas flores brancas e perfumadas são um atrativo para diversos animais como por exemplo, abelhas. Floresce principalmente durante os meses de outubro a fevereiro, enquanto a frutificação ocorre geralmente nos meses de setembro a novembro.

   Grão-de-galo(C. superba) é uma espécie multifuncional, com diversas utilidades:
Ornamental: Devido à beleza de suas flores, tem potencial de ser utilizada em paisagismo urbano e rural.
Alimentar: Seus frutos servem de alimento para diversas espécies de aves e morcegos, contribuindo para a dispersão das sementes.
Medicinal: Estudos indicam que a planta possui propriedades medicinais, com propriedades imunomoduladoras.
Ambiental: A espécie desempenha um papel importante na recuperação de áreas degradadas e na conservação da biodiversidade. 

    É uma planta nativa e exclusivamente brasileira(endêmica), sendo confirmada em todas as regiões do Brasil e encontrada nos biomas Caatinga, Cerrado e na Mata Atlântica. Sua ampla distribuição geográfica indica uma grande capacidade de adaptação a diferentes condições climáticas e de solo. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar e Agreste Potiguar, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências 
CARVALHO, P. E. R. Espécies arbóreas brasileiras. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica; Colombo: Embrapa Florestas, 2010. v. 4, p. 79-85.

Cordia in Flora e Funga do Brasil. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Available at:<https://floradobrasil.jbrj.gov.br/FB16530>. consulta.publica.uc.citacao.acesso.em12 out. 2024.

DIESEL, Katarine Maria Freire. Florestas urbanas em Natal, RN: florística, conectividade e viabilidade de um jardim botânico. 2018. 85f. Dissertação (Mestrado em Ciências Florestais) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2018.

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Instituto Plantarum, v. 1, ed. 5, 2008.

sábado, 14 de setembro de 2024

A rara Borboleta asas-de-vidro Episcada hymenaea (Prittwitz, 1865) no Rio Grande do Norte

   Inseto conhecido popularmente como Borboleta asas-de-vidro ou Borboletinha-de-vidro, sendo seu nome científico Episcada hymenaea (Prittwitz, 1865). Ela pertence a família Nymphalidae, da qual também fazem parte por exemplo, a borboleta-estaladeira, a borboleta-esmeralda e a borboleta-zebra.
borboleta asas-de-vidro(Episcada hymenaea) documentada em floresta na serra de Luís Gomes, RN, Brasil. Ela foi observada no interior de mata densa nas proximidades de um riacho a cerca de 400 de altitude.

   A Borboleta asas-de-vidro(Episcada hymenaea) faz parte da subfamília Ithomiinae, na qual as suas lagartas(larvas) se alimentam de folhas principalmente de plantas da família Solanaceae, enquanto que na fase adulta(alada) consomem de maneira geral néctar de flores. Especificamente para espécie citada, as plantas-hospedeiras no qual as lagartas comem pertencem ao gênero Solanum(o mesmo da Jurubeba), tendo sido registrada seu desenvolvimento em Solanum diphyllum e Solanum compressum.
   A Borboletinha-de-vidro(Episcada hymenaea) geralmente é encontrada com maior frequência em mata primária, podendo ser considerada uma espécie bioindicadora. Ela habita principalmente ambientes florestais úmidos, mas pode ser encontrada também em florestas alteradas, tanto no interior de mata fechada como na borda. No Brasil tem sido documentada nos biomas Caatinga e Mata Atlântica, mas ocorre em outros países da América do Sul como Argentina, Bolívia, Paraguai e Uruguai. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste potiguar(foto). 

Referências

Calor, A. R. & Bravo, F. 2014. Artrópodes do semiárido: conhecimento atual e desafios para os próximos anos. In: Bravo, F. & Calor, A. R. eds. Artrópodes do semiárido: biodiversidade e conservação. Feira de Santana, Printmídia.

Costa FAPL (2002) Borboletas Ithomiinae (Lepidoptera, Nymphalidae) da Reserva Biológicas D’Anta (Juiz de Fora, MG). Revista Brasileira de Zoologia, 4:143-149.

Quinteros, R., & Bustos, E.O. (2018). Una enorme congregación de Episcada hymenaea (Lepidoptera: Nymphalidae: Danainae) en las yungas del norte de Salta, Argentina. Acta Zoológica Lilloana.

quinta-feira, 11 de julho de 2024

Águia-Serrana: Uma ave de rapina imponente nas serras brasileiras

   Ave conhecida popularmente como Águia-serrana, Gavião-de-serra, Gavião-pé-de-serra, Gavião-azul, e Turuna(Turana,Tourona e Torona são variações desse nome), entretanto seu nome científico é Geranoaetus melanoleucus (Vieillot, 1819). Pertence a família Accipitridae, da qual também fazem parte por exemplos, o gavião-caboclo, o gavião-caramujeiro e o gavião-carijó.

   A águia-serrana (Geranoaetus melanoleucus) apresenta envergadura de quase 2 metros, atinge cerca de 66 cm de comprimento, sendo as fêmeas ligeiramente maiores que os machos, podendo alcançar 80cm de comprimento. Seu peso varia de 1.670g a 3.170 gramas. Na fase adulta apresenta cabeça e peito cinza-escuros, barriga branca, asas largas e cinza-esbranquiçadas com pontas pretas, cauda curta(característica marcante ) e arredondada.

   Excelente planadora, usando correntes de ar ascendentes para subir alto e observar suas presas com sua visão aguçada lançando-se em ataques rápidos e precisos quando a oportunidade surge. Ágil e acrobática em voo, ela é capaz de capturar suas presas em pleno ar. A Águia-Serrana alimenta-se principalmente de mamíferos e aves campestres, incluindo roedores e pequenos marsupiais, corujas-buraqueiras, quero-queros, répteis(cobras e lagartos), peixes (ocasionalmente), carniça (quando disponível) e até mesmo insetos. Há relatos de predação a animais de criação(doméstico) gerando assim um certo grau de conflito com humanos, sendo a águia-serrana abatida em casos extremos. O abate(caça) associado a outros fatores podem contribuir para a extinção local da espécie em algumas localidades montanhosas do país, mesmo ela não estando classificada em nível nacional como espécie ameaçada de extinção.

   O acasalamento da Águia-Serrana(Geranoaetus melanoleucus) ocorre ao longo do ano, variando conforme a latitude. Durante a corte, o macho realiza voos acrobáticos para impressionar a fêmea. Os ninhos são construídos em penhascos ou escarpas rochosas, utilizando galhos secos como base e forrando-os com palha, folhas e plumas. Eles são construídos em conjunto pelo casal e serve de abrigo para os ovos(1-3 por ninhada), que são incubados por ambos os pais por cerca de 30 a 42 dias. Após a eclosão, os filhotes permanecem no ninho por 42 a 59 dias, aprendendo com seus pais as técnicas de caça e sobrevivência. A maturidade sexual é atingida por volta dos três anos de idade.

   Espécie geralmente solitária ou em pares, mas pode formar bandos de até 5 indivíduos. A águia-serrana é uma espécie residente, independente de ambientes florestais, preferindo áreas abertas e montanhosas, como campos, savanas e cerradões, onde encontra suas presas e locais adequados para nidificar. Ela é encontrada em grande parte da América do Sul, desde a Cordilheira dos Andes até a Terra do Fogo. No Brasil, está presente em quase todo o território, exceto na região Norte. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Agreste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar.


Referências

Adriano Rodrigues Lagos ... [et al.] . Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro : FURNAS, 2018.

Favretto, M. A. Aves do Brasil, vol I: Rheiformes a Psittaciformes. Florianópolis. 2021. 596 p. : il.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

Lima, L. M. Aves da Mata Atlântica: riqueza, composição, status, endemismos e conservação. 2013. 513f. Dissertação (Mestrado em Ciências) - Universidade de São Paulo, São Paulo. 2013.

Piacentini, V. Q. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, V. 23, N. 2, p. 91–298, 2015.

PICHORIM M, Oliveira DV, Oliveira-Júnior TM, Câmara TPF, Nascimento EPG (2016) Pristine semi-arid areas in northeastern Brazil remain mainly on slopes of mountain ranges: a case study based on bird community of Serra de Santana. Trop Zool 29:189–204. https://doi.org/10.1080/03946975.2016.1235426

Sick, H. Ornitologia brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 862p, 2001.

Sigrist, T. Avifauna Brasileira: The avis brasilis field guide to the birds of Brazil, 1ª edição, São Paulo: Editora Avisbrasilis, 2009.

Silva JMC et al. 2003 Aves da Caatinga: status, uso do habitat e sensitividade. In: Leal IR et al. (Eds) Ecologia e conservação da Caatinga. Recife: Editora Universitária/UFPE.

Torres, Denise de Freitas. Conflitos, caça e conservação da fauna silvestre. 2019. 143 f. Tese (Programa de Pós-Graduação em Etnobiologia e Conservação da Natureza) - Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife.