Ave conhecida popularmente como: arribaçã, ribaçã , rabaçã, rabação, rebaçã, ribação,arribação, pomba-de-arribação, pomba-de-bando, pomba-do-meio, pomba-do-sertão, pomba-parari, pomba-pararu, pomba-amargosinha, bairari, cardigueira, cardinheira, guaçuroba-pequena, juriti-carregadeira, pairari, pararé, parari, , rolinha, amargozinha e avoante. Entretanto para ciência seu nome é único, pois seu nome científico é Zenaida auriculata, sendo o primeiro nome referente ao genêro Zenaida Bonaparte,1825;, enquanto o termo específico auriculata é de origem latim, auriculatus que é diminutivo de auris que significa pequena orelha.
Espécie grande,podendo os indivíduos adultos medir cerca de 25cm de comprimento. apresenta o dorso pardo,cabeça com duas faixas negras nos lados da cabeça atrás dos olhos, formando como se fossem orelhas (origem do nome latino auriculata = com orelhas) e algumas machas da mesma cor nas asas; os olhos são envoltos por uma pele azulada. Nas asas, as bolas negras também são marcantes, as retrizes (particularmente as laterais) com amplo ápice branco, realçado por faixa negra ante-apical, que dá muito na vista quando a ave pousa. Pode ser confundida com uma parente próxima, a Juriti(Leptotila sp.), entretanto esta ocorre em florestas e bosques, enquanto que a Arribaçã(Zenaida auriculata) prefere áreas campestres, cerrado, caatinga e plantações. . Indivíduos imaturos com cerca de três semanas de vida apresentam cabeça, pescoço e asas triangularmente riscados de branco ou amarelados e uma grande nódoa branca no loro.
Existe dimorfismo sexual,pois o macho tem a cabeça azulada e seu pescoço quando iluminado pela luz do sol mostra manchas cor-de-rosa e azul para atrair a fêmea na época de acasalamento quando o macho se exibe enchendo o pescoço. Na fêmea a cabeça é um tom amarronzado meio ruivo com o pescoço quando a luz do sol o ilumina de um tom amarelado e esverdeado.
Alimenta-se de grãos como sementes de caruru e de brotos de algumas plantas, principalmente espécies da família Euforbiaceae, em especial Croton jacobinensis(Aquirre, 1976). Com a destruição de seu habitat ao longo do "tempo" para implantação de monoculturas como por exemplo, soja,arroz,milho,trigo, elas passaram a incluir também em sua dieta esses grãos e em algumas regiões como na área do Triângulo Mineiro, e em outros países como Colômbia (em relação à soja) e na Argentina (Córdoba) elas são consideradas "praga" da agricultura desses grãos, nessa última área 85% de sua alimentação é composta de grãos cultivados, sobretudo sorgo, trigo e painço (Bucher 1970), sendo as aves sempre abundantes, havendo pombais de um a cinco milhões de indivíduos.
É muito prolífica. Em alguns locais pode construir seu ninho diretamente no chão, mas é mais comum que o construa um arbustos, palmeiras ou ate mesmo no forro de telhados. O ninho em forma de tigela rasa é um amontoado de gravetos tão ralo que as vezes é possível ver os ovos através dele. Não é de se estranhar que tantos ovos e filhotes caiam derrubados pelo vento ou pela chuva. Os ninhos são construídos sobre o solo arenoso da caatinga nordestina e eventualmente em arbustos, até cerca de 3 metros do chão, onde a fêmea poe de 2 a 3 ovos brancos em cada ninho. Geralmente são criados 2 ou 3 filhotes por ninhada. Estes são alimentados por ambos os pais e deixam o ninho dentro de duas semanas. Os locais onde essa espécie se concentra aos milhares são
chamados pombais. A duração de um pombal chega a ser entre 60 a 70 dias. Foi observado que não usa os mesmos pombais todos os anos para fazer suas posturas.
A arribaça (Zenakia auriculata) distribui-se nas formações abertas da América do Sul cisandina desde a Colômbia, Venezuela, Trinidad-Tobago e Guianas até o centro-sul da Argentina e ocorre em todo o Brasil. Originalmente ave campestre típica da Caatinga, Cerrado e campos, atualmente vem aumentando significativamente sua distribuição, beneficiada pelo desmatamento e nas ultimas décadas conquistou efetivamente o ambiente urbano, chegando ate mesmo a grandes metrópoles como São Paulo, onde sua população vem aumentando a cada ano desde 1970. É uma das poucas aves de ambiente terrestre na Ilha de Fernando de Noronha, no meio do Oceano Atlântico.
Na região Nordeste do Brasil, onde realiza migrações locais conforme as secas também forma bandos enormes. Nessa região é muito caçada, chegando a ser vendida em feiras livres, sendo tal prática proibida, devendo ser denunciada.
"A intervalos de dois a três anos torna-se numerosíssima no Nordeste (Píauí, Ceará, Rio Grande dó Norte), surgindo de abril a junho aos milhares e formando bandos compactos cuja afluência figura entre as mais espetaculares migrações de aves em todo mundo. Ao que parece são atraídas pela abundante frutificação de marmelo (Croton sp.), ocorrente após as pesadas chuvas caídas usualmente entre novembro e março, conforme foi verificado por A. Aguirre a quem devemos as primeiras melhores informações acerca da espécie. O padrão de recuperação de 26.000 avo antes anilhados mostrou uma movimentação dentro da caatinga da mesma forma que as chuvas (Antas 1987). Foi o primeiro caso de migração evidenciada pelo uso de anilhas no Brasil. A caatinga, situada na faixa pluviométrica anual média de 550 a 750mm, possui um padrão estacional de chuvas movendo-se do centro-oeste até o Rio Grande do Norte. O trimestre mais chuvoso vai lentamente dirigindo- se de sudoeste para nordeste. A chuva leva a caatinga a rebrotar, florescer, frutificar. É quando as sementes maturam e caem que inicia o período ideal para a avoante, uma granívora de solo. Os sertanejos perseguem as arribaçãs por todos os meios até mesmo à noite ("fachear"), principalmente nos "pombais de bebida", que podem ser cacimbas feitas na hora a fim de atraí-Ias. O cúmulo da brutalidade é que os "caçadores" costumam envenenar' a água das cacimbas, usando um veneno que apenas atinge as pombas quando bebem, não as pessoas."
É bom lembrarmos que é crime ambiental matar essa ave ou qualquer outro animal silvestre da fauna brasileira sem autorização do IBAMA, pois segundo esse órgão quem for pego caçando arribaçãs responde por crime de caça predatória e pode pegar de seis meses a um ano de prisão, além de pagar uma multa de R$ 500 por cada ave apreendida.
Referências
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DUNNING, J. S.; BELTON, W. Aves Silvestres do Rio Grande do Sul. 3ed, Porto Alegre: Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul, p. 54, 1993.
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