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domingo, 22 de novembro de 2020

Calango-liso Brasiliscincus heathi (Schmidt & Inger, 1951), o predador de cupins

   Lagarto conhecido popularmente como Calango-liso, Lagarto-brilhante, Lagarto-do-Folhiço e Briba-brilhante, entretanto seu nome científico é único, Brasiliscincus heathi (Schmidt & Inger, 1951). Pertence a família Mabuyidae. 

   O Calango-liso(Brasiliscincus heathi) alimenta-se de pequenos animais artrópodes incluindo em sua dieta principalmente insetos e apesar de ser generalista nesse aspecto, os cupins são suas principais presas, sendo aquele lagarto um predador oportunista. Há dimorfismo sexual em B. heathi, onde em termos de comprimento(rostro-cloacal) as fêmeas são maiores do que os machos, enquanto que é notável a diferença de tamanho da cabeça em ambos, sendo as cabeças dos machos maiores. Curiosamente essa espécie é vivípara, ou seja, os filhotes desenvolvem-se no interior da mãe até o momento de nascer, depois desse período já nascem completamente formados.

   De maneira geral essa espécie vive sobre o solo(Caatinga e Cerrado) e associada a gramíneas no ecossistema de restinga(Mata Atlântica). Brasiliscincus heathi é espécie endêmica(exclusiva) do Brasil, sua distribuição geográfica estende-se pelo domínio da Caatinga incluindo Brejos de altitude e no domínio da Mata Atlântica nordestina, mas também foi confirmado em áreas de cerrado, especialmente em transição com a caatinga. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar, Agreste Potiguar e Central Potiguar. Ela atualmente não está ameaçada de extinção em nível global(IUCN) e também em nível nacional(ICMBio,2018).

Referências

Colli, G.R., Fenker, J., Tedeschi, L., Bataus, Y.S.L., Uhlig, V.M., Silveira, A.L., da Rocha, C., Nogueira, C. de C., Werneck, F., de Moura, G.J.B., Winck, G., Kiefer, M., de Freitas, M.A., Ribeiro Junior, M.A., Hoogmoed, M.S., Tinôco, M.S.T., Valadão, R., Cardoso Vieira, R., Perez Maciel, R., Gomes Faria, R., Recoder, R., Ávila, R., Torquato da Silva, S., de Barcelos Ribeiro, S. & Avila-Pires, T.C.S. 2019. Brasiliscincus heathi. The IUCN Red List of Threatened Species 2019: e.T47102646A47102653. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2019-1.RLTS.T47102646A47102653.pt. Downloaded on 23 November 2020.  

FERREIRA ,A. S. ; Silva, A. de O., Conceição, B. M. da & Faria, R.G. The diet of six species of lizards in an area of Caatinga, Brazil. Herpetological Journal Volume 27 (April 2017), 151–160.

FREIRE, E. SUGLIANO, G. KOLODIUK M. et al. 2009. Répteis squamata das caatingas do Seridó do Rio Grande do Norte e do Cariri da Paraíba: síntese do conhecimento atual e perspectivas. In: Recursos Naturais das Caatingas: Uma Visão Multidisciplinar, E. M. X. Freire, Ed., pp. 51–84, Editora da UFRN-EDUFRN, Natal, Brazil, 1st edition.

GONALEZ, R. C. ; Abegg,A. D. ; Mendes, D. M. de M.; Silva, M. B. da ; Machado-Filho, P.R.; Mario-da-Rosa ,C.;  Passos, D. C.; Ribeiro, M.V.; Benício, R. A. ; Oliveira, J. C. F.. LISTA DOS NOMES POPULARES DOS RÉPTEIS NO BRASIL – PRIMEIRA VERSÃO. Herpetologia Brasileira vol. 9 no . 2 - Listas de Anfibios e Répteis.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.  

SILVA, M. C. da. Autoecologia do lagarto neotropical brasiliscincus Heathi Schmidt & Inger, 1951 (SQUAMATA: MABUYIDAE) em um fragmento de Floresta Atlântica no Nordeste do Brasil. 2018. 90f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Ciências Biológicas)- Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2018.

domingo, 1 de novembro de 2020

Aechmea muricata (Arruda) L.B.Sm. , uma bromélia nordestina ameaçada de extinção

   Aechmea muricata (Arruda) L.B.Sm. é o nome científico desta planta(foto), ela pertence a família Bromeliaceae, da qual também fazem parte por exemplo, a macambira-de-flecha e o cravo-do-mato.

   Aechmea muricata possui inflorescência subcilíndrica verde do tipo espiciforme("forma de espiga"), pedúnculo coberto por brácteas, onde destacam-se as flores tubulosas de cor lilás ou azul. De porte herbáceo ela é principalmente terrícola, mas também se apresenta como epífita em áreas de várzea, tanto em área aberta como sombreada. 

   A. muricata é endêmica do Nordeste do Brasil, ou seja, é encontrada apenas nessa região, ocorrendo geralmente em áreas arenosas da costa nordestina, fazendo parte da vegetação de restinga, inclusa no bioma ou domínio da Mata Atlântica. Atualmente essa espécie foi confirmada apenas para os estados de Alagas, Pernambuco e Rio Grande do Norte. Ela está ameaçada de extinção e aqui no Rio Grande do Norte a única população documentada encontra-se na RPPN Mata Estrela(Baía Formosa, RN), destacando a grande importância da manutenção dessa Reserva, na qual são encontradas outras espécies animais e vegetais ameaçadas de extinção.


Agradeço a Edweslley de Moura pela ajuda na identificação em nível de espécie.

Referências

Maciel, Jefferson Rodrigues Estudos taxonômicos, filogenéticos e biogeográficos em Aechmea (Bromeliaceae). Tese (doutorado) – Universidade Federal de Pernambuco. Centro de Biociências. Biologia Vegetal, Recife, 2017.

Magalhães, R., Versieux, L.M., & Calvente, A.M. 2014. Aechmea muricata (Arruda) L.B. Sm. (Bromeliaceae: Bromelioideae): a new record of a threatened species for Rio Grande do Norte, Northeastern Brazil. Checklist 10: 434-435.

Tomaz, Eduardo Calisto. Taxonomia e biogeografia de Bromeliaceae na distribuição norte da Caatinga e Mata Atlântica do Brasil. 2019. 222f. Dissertação (Mestrado em Sistemática e Evolução) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2019.

segunda-feira, 12 de outubro de 2020

Sapo-d’água(Pipa carvalhoi), uma espécie adaptada a viver no meio aquático

Nomenclatura e classificação científica de Pipa carvalhoi

   Anfíbio anuro da família  Pipidae, na qual ocorrem 4 espécies no Brasil, onde uma delas ocorre no Rio Grande do Norte,  Pipa carvalhoi (Miranda-Ribeiro, 1937). Conhecido por Sapo-d’água ou Rã-d’água, tendo recebido esses nomes vulgares justamente por ser uma espécie de hábito subaquática. 

Aspectos bio-ecológicos de Pipa carvalhoi

   Espécies da família Pipidae vivem em corpos de água permanentes ou temporários, conservados ou  antropizados, riachos e remanso de córregos, em meio a matéria orgânica no substrato. Pipa carvalhoi possui adaptações  que lhe permite viver nesses ambientes aquáticos, como por exemplos, não possui língua, alimentando-se por sucção e reteve a linha lateral(Silva et al. 2010; Santana et al. 2014). Durante sua reprodução na água, a fertilização e incubação dos ovos ocorre na pele do dorso(nas costas) das fêmeas, onde os embriões se desenvolvem até emergirem(Fernandes,2011). Dessa forma, raramente a espécie usa o ambiente terrestre. 

Distribuição geográfica de Pipa carvalhoi 

   Sapo-d’água(Pipa carvalhoi) é endêmica(exclusiva) do leste do Brasil, sendo confirmada sua presença nos biomas da Mata Atlântica e Caatinga, com dois agrupamentos de populações ocorrendo um do Ceará à Sergipe e o outro no Sul da Bahia, Espírito Santo e Minas Gerais (Silva et al. 2010; Santana et al. 2014). No Rio Grande do Norte a espécie foi documentada pela primeira vez no município de Santa Maria, mesorregião Agreste Potiguar(Jorge, Freire e Kokubum,2015). 

   Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado a espécie na mesorregião Central Potiguar, especificamente no Seridó e acredito que a espécie deve ocorrer também no Alto Oeste Potiguar.  P. carvalhoi não está ameaçado de extinção em nível global(IUCN,2010) e nacional atualmente, de acordo com a última lista disponível no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção(2018). No entanto, em muitos locais, percebe-se que sofre ameaça devido a poluição da água onde vive, por exemplo pelos efluentes agrícolas.

Referências

Cristina Arzabe, Gabriel Skuk, Manfred Beier. 2010. Pipa carvalhoi . A Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN 2010: e.T58160A11728418. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2010-2.RLTS.T58160A11728418.en . Transferido em 12 de outubro de 2020 .

ICMBIO -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

Jorge, J. da S., E. M. X. Freire, and M. N. de C. Kokubum. 2015. Geographic distribution: Pipa carvalhoi. Herpetological Review 46: 57.

Segalla, M.V., Caramaschi, U., Cruz, C.A.G., Garcia, P.C.A., Grant, T., Haddad, C.F.B., Santana, D.J., Toledo, L.F., Langone, J.A. (2019): Lista de espécies brasileiras-Brazilian Amphibians: List of Species. Herpetologia Brasileira 8(1): 65–96.

Santana, D.O., Franco, S.C., Rocha, S.M., Freitas, E.B., De-Carvalho, C.B., Faria, R.G. First record of Pipa carvalhoi (Miranda-Ribeiro, 1937) (Anura: Pipidae) in the state of Sergipe, northeastern Brazil. Check List 10(2): 407-408, 2014

Silva, E.T., Fernandes, V.D., Santana, D.J., Feio, R.N. Amphibia, Anura, Pipidae, Pipa carvalhoi (MirandaRibeiro, 1937): Distribution extension and geographic distribution map in the southeast of Brazil. Check List (UNESP) 6(3): 451-453, 2010.

Tatiana L. Fernandes, Marta Maria Antoniazzi, Estela Sasso-Cerri, Mizue Imoto Egami, Carla Lima, Miguel T. Rodrigues, and Carlos Jared "Carrying Progeny on the Back: Reproduction in the Brazilian Aquatic Frog Pipa carvalhoi," South American Journal of Herpetology 6(3), 161-176, (1 December 2011). https://doi.org/10.2994/057.006.0302 .

domingo, 20 de setembro de 2020

Coronha Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn., a planta das flores perfumadas

Nomenclatura e classificação científica


   Planta conhecida popularmente como coronha, corona, clorona, esponja, esponjeira, esponjinha, espinheiro, espinilho, acácia doce, aromas, aromita, arapiraca, vinhático-de-espinho, coroa-de-cristo  e corona-cristi. Porém seu nome científico válido é único, Vachellia farnesiana (L.) Wight & Arn.. Essa espécie pertence a família Fabaceae, da qual também fazem parte por exemplo, o Angico, a Sucupira e o Pau-brasil.

Aspectos biológicos da espécie Vachellia farnesiana


   Coronha(Vachellia farnesiana) é de porte geralmente arbustivo atingindo cerca de 3m de altura, com copa fechada, ramos cilíndricos e tortuosos revestidos por uma casca quase lisa e com lenticelas. Suas folhas são compostas bipinadas, com 12 a 23 pares de folíolos e tem estípulas que se transformam em espinhos. Tem flores pequenas amarelas ou alaranjadas que juntas formam inflorescência do tipo capítulo, estas são  muito aromáticas e tem cheiro forte adocicado. Floresce frequentemente de junho a setembro. O fruto dessa planta é do tipo legume indeiscente que possui bastante polpa carnosa-esponjosa entre as sementes.

Aspectos ecológicos da espécie Vachellia farnesiana


   Planta decídua( suas folhas caem em determinado período) e heliófita( adaptada a viver em ambiente exposto a luz), a  Coronha(V. farnesiana) é considerada espécie pioneira e típica de formações vegetais secundárias em ambientes secos e ou pedregosos. Ocorre mais frequentemente em pastagens, as margens de estradas e também é cultivada próxima a construções humanas devido ao cheiro forte de suas flores. Produz elevada quantidade de sementes anualmente.

Importância e usos da espécie Vachellia farnesiana


    A Coronha(V. farnesiana) apresenta valor ornamental devido a beleza das flores com cheiro adocicado que é útil para produção de perfume e também são melíferas, sendo visitadas por abelhas. A sua madeira é pesada, resistente e possui boa durabilidade o que torna ela muito indicada para "confecção de dormentes, moirões, esteios, eixos, rodas, rolos para moendas, construção civil, peças de resistência, cabos de instrumentos, bem como para lenha e carvão (LORENZI, 1998)". As folhas são forrageiras, mas também são indicadas na medicina popular para aplicação em ferimentos, enquanto que os frutos são indicados tradicionalmente para combater inflamações na pele e disenterias. Além disso, na medicina tradicional as raízes dessa planta são indicadas em tratamento alternativo da tuberculose.

Distribuição geográfica e ocorrência da espécie Vachellia farnesiana


   Coronha(V. farnesiana) é nativa com ampla distribuição neotropical, ocorrendo desde o México até o  Brasil, onde é encontrada em todas as regiões, principalmente no Nordeste, sendo confirmada nos biomas Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e na Amazônia. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar.

Referências

BRAGA, Renato. Plantas do nordeste, especialmente do Ceará. Fortaleza: coleção mossoroense-volume XLII,1976. 

LORENZI, H. Árvores brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil. Nova Odessa: Plantarum, 1998. 2.ed. v.2.

PARROTTA, J. A. 1992. Acacia farnesiana (L.) Willd.–Aroma, huisache. Research Note SO-ITF-SM-49.U.S. Department of Agriculture, Forest Service,.Southern Forest Experiment Station, New Orleans. 6.

QUEIROZ, L. P. Leguminosas da caatinga. Universidade estadual de Feria de Santana: UEFS, 2009. 467p.

SILVA, Kelina B. ; Pinto, M. do S. de C. e Souza,N. A. de. Morfometria de frutos e diásporos de Acacia farnesiana (L.) Willd.. Revista Verde (Mossoró – RN - Brasil), v 9. , n. 2 , p. 76 - 82, abr-jun 2014.

VACHELLIA in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro. Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB114576>. Acesso em: 19 set. 2020.

domingo, 30 de agosto de 2020

Punaré Thrichomys laurentius (THOMAS, 1904) um roedor exclusivamente brasileiro

Nomenclatura e classificação científica do Punaré

   Mamífero roedor conhecido popularmente como Punaré ou Rabudo, porém seu nome científico é Thrichomys laurentius (THOMAS, 1904). Essa espécie pertence a família Echimyidae(ex.: ratos-de-espinho,ratos-do-bambu) e até recentemente era considerada uma subespécie do gênero Thrichomys(Thrichomys apereoides laurentius).  


Aspectos biológicos do Punaré (Thrichomys laurentius)

    O comprimento do corpo de um indivíduo adulto dessa espécie, tem uma média de 197,7mm(cerca de 20cm), enquanto que seu peso médio registrado foi de 187,4 gramas. De maneira geral em T. laurentius a coloração no dorso é acinzentada, enquanto que no ventre é branca. Assim como os demais representantes do gênero, possui um “anel” de pelos brancos ao redor de cada olho e uma cauda coberta de pelos, mas esta pode  não ser observada em alguns exemplares, pois é facilmente fraturada. A cauda tem como função principal ajudar no equilíbrio do animal durante os saltos. As espécies do gênero Thrichomys constroem seus ninhos com material vegetal em cavidades das rochas, ocos de árvores e até em galerias no solo, onde dão a luz em média 3 filhotes por gestação. O número de ninhadas por ano varia de duas a três, e os novos indivíduos atingem a maturidade sexual entre 7 e 9 meses de vida. No geral, eles se reproduzem com maior frequência entre fevereiro e julho. 


Aspectos ecológicos do Punaré (Thrichomys laurentius)

   T. laurentius é terrestre e semi-arborícola, ou seja, vive tanto no chão como no estrato arbóreo e pode ser observada ativamente durante parte do dia e da  noite, todavia é considerada de hábito mais  crepuscular. Ela alimenta-se principalmente de raízes e frutos, sendo considerada quanto a dieta uma espécie herbívora-frugívora. Vive principalmente em áreas abertas da Caatinga, do Cerrado, nos brejos de altitude e em  áreas de Floresta Estacional Decidual que está associada ao bioma Mata Atlântica. Na caatinga tenho observado com maior frequência em cavidades de formações rochosas, onde ficam abrigados durante maior parte do dia. Seus principais predadores que contribuem para o controle populacional da espécie, incluem por exemplo, os felinos( gato-mourisco, jaguatirica,etc), as serpentes( cascavel e jiboia, etc) e aves de rapina como a Águia-Serrana.

Punaré (Thrichomys laurentius), um hospedeiro de Leishmania e Trypanosoma cruzi


   Estudos tem demonstrado que o punaré(T. laurentius)  tem condições de reter o parasita causador da leishmaniose tegumentar(L. braziliensis) e leishmaniose visceral-calazar(L. infantum), apresentando infecções de longa duração. Portanto, atua como hospedeiro e é um dos principais agentes etiológicos da leishmaniose humana no Brasil (ROQUE et al., 2010). Além disso, outras pesquisas tem revelado que T. laurentius atua como reservatório de Trypanosoma cruzi, causador da doença de chagas , participando nos ciclos de transmissão desse parasita.


Ameaça e distribuição geográfica do Punaré (Thrichomys laurentius)


   O rabudo(T. laurentius)  não está ameaçado de extinção em nível nacional atualmente, de acordo com a última lista disponível no Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção(2018). Contudo, sofre ameaça humana, pois é perseguido e caçado(proibido por lei) em grande parte da região onde ocorre, sendo usado na alimentação em algumas comunidades no sertão nordestino. Este roedor é nativo e endêmico para o Brasil, ou seja, só é encontrado nesse país, sendo sua distribuição geográfica  desde o Ceará até a Bahia, além disso foi confirmado recentemente também no norte de Minas Gerais.  Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste Potiguar.

Referências
BASILE, Patrícia Adriana; VIVO, Mário de. Taxonomia de Trichomys Trouessart, 1880 (Rodentia, Echimyidae). 2003.Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto, 2003.

BONVICINO, C.R., OLIVEIRA, J.A. & D'ANDREA, P.S. 2008. Guia de Roedores do Brasil, com chaves para gêneros baseadas em caracteres externos. PANAFTOSA-OPAS/ OMS, Rio de Janeiro.

FINOTTI ,R.; D’Andrea,P. S.; Santos ,M. M. dos; Carvalhaes ,J. G.; Novaes ,R. L. M.; Souza, D.D. N. de & Cerqueira,R. Diferenciação dos hábitos alimentares de três espécies do gênero Thrichomys (Rodentia, Echimyidae) através de experimento de preferência alimentar em laboratório. Bol. Soc. Bras. Mastozool., 74: 95-102, 2015.

ICMBIO -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p. 

LUCENA, Mycarla Míria Araújo de. Additional criteria proposed for definition priority area for conservation in brazilian semiarid. 2014. 161 f. Tese (Doutorado em Meio Ambiente, Cultura e Desenvolvimento) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2014.

MORLANES, Viviane. Ecologia de pequenos mamíferos (Didelphimorphia e Rodentia) em uma área de caatinga do Rio Grande do Norte. 2016. 106 f. Dissertação (Mestrado) - Curso de Pós-graduação em Ciência Animal, Universidade Federal Rural do Semi-Árido, Mossoró, 2016.

PAGLIA, A.P., Fonseca, G.A.B. da, Rylands, A. B., Herrmann, G., Aguiar, L. M. S., Chiarello, A. G., Leite, Y. L. R., Costa, L. P., Siciliano, S., Kierulff, M. C. M., Mendes, S. L., Tavares, V. da C., Mittermeier, R. A. & Patton J. L. 2012. Lista Anotada dos Mamíferos do Brasil / Annotated Checklist of Brazilian Mammals. 2ª Edição / 2nd Edition. Occasional Papers in Conservation Biology, No. 6. Conservation International, Arlington, VA. 76pp.

PILAR e SILVA, Aparecida. Análise genética da população de Thrichomys apereoides (RODENTIA, Echimyidae) no norte de Minas Gerais. Instituto de Ciências Biológicas,UFMG, 2011.

REIS, dos R. R.; PERACCHI, A. L.; PEDRO, W. A.; LIMA, de I. P. Mamíferos do Brasil – Londrina, 2006.

ROQUE, André Luiz Rodrigues; et al. Thrichomys laurentius (Rodentia; Echimyidae) as a Putative Reservoir of Leishmania infantum and L. braziliensis: Patterns of Experimental Infection. PLoS Negl Trop Dis., v.4, n.2, e589., 8p, Feb. 2010.

ROQUE, ALR. Avaliação do potencial de pequenos mamíferos e importância de animais domésticos na manutenção dos ciclos de transmissão de tripanosomatídeos: Trypanosoma cruzi, Leishmania infantum e Leishmania Braziliensis. Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ 2009.

segunda-feira, 13 de julho de 2020

Pajeú Triplaris gardneriana Wedd., árvore ornamental das matas ciliares


Nomenclatura e classificação

   Planta conhecida popularmente como Pajeú, Pajaú, Pau-jaú, Coaçu, Cuaçu, Novateiro-preto, Pau-formiga ou Formigueiro, entretanto seu nome científico é único, Triplaris gardneriana Wedd.. Pertence a família Polygonaceae, da qual também fazem parte por exemplo os cauaçus(Coccoloba sps).

Aspectos biológicos de Pajeú (Triplaris gardneriana)

   Pajeú(Triplaris gardneriana) pode atingir de 4 a 15m de altura, apresenta copa rala e baixa, sendo uma árvore bem ramificada com caule tortuoso de casca fina, lisa e descamante. Os seus ramos geralmente são ocos onde frequentemente vivem formigas. Suas folhas simples pilosas na face inferior são relativamente duras e ásperas. Nessa espécie temos inflorescência do tipo panícula terminal, onde a feminina  é que se destaca como ornamental, na qual são produzidos os frutos. Estes são do tipo aquênio e lembram rapidamente uma "peteca", sendo dispersos através do vento. Geralmente floresce com maior intensidade de junho a agosto e neste mês começa a frutificação. Após queimada ou cortada pode rebrotar, o que proporciona na referida planta o surgimento de novos caules. 

Importância e usos de Pajeú (Triplaris gardneriana)

   T. gardneriana é uma planta pioneira de crescimento rápido sendo recomendada para reflorestamento de matas ciliares. Ela também apresenta valor ornamental devido principalmente a beleza da sua floração(indicada para arborização urbana), importância ecológica, como exemplos através da interação com formigas(10 espécies) que nidificam  em seus troncos ocos, da interação com abelhas que são atraídas pelas suas flores(apícola) e na restauração florestal. Além disso, tem valor na medicina popular, sendo diferentes partes da planta usadas em algumas comunidades, por exemplo para tratar hemorróidas, blenorragia, leucorréia, gastrite e úlcera.

Ocorrência e distribuição geográfica de Pajeú (Triplaris gardneriana)

  Triplaris gardneriana ocorre as margens de riachos, várzeas inundáveis e encostas úmidas principalmente sobre solos calcários nos biomas Pantanal, Caatinga, Cerrado, Amazônia e Mata Atlântica. Pajeú(T. gardneriana) é nativa mas não é endêmica do Brasil. Ela tem ocorrência confirmada para as seguintes regiões e seus respectivos estados: Norte (Tocantins), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe), Centro-Oeste (Distrito Federal, Goiás, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso) e Sudeste (Minas Gerais). Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie apenas nas mesorregiões Central Potiguar e Oeste Potiguar, sempre associada a vegetação das margens de cursos de água como riachos ou rios.

Referências
BRAGA, Renato. Plantas do nordeste,especialmente do Ceará. Fortaleza:coleção mossoroense-volume XLII,1976.

LORENZI, H. Árvores Brasileiras: manual de identificação e cultivo de plantas arbóreas nativas do Brasil, v. 2. 2ª ed. Nova Odessa, SP: Instituto Plantarum, 1998.

MELO, E. Polygonaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB20606>. Acesso em: 11 jul. 2020.

OLIVEIRA, R. C.de; Silva, A.S. da; Ribeiro, A. R. de O.; Araújo,J. E. de; Oliveira, O. F. de e Camacho,R. G. V.. List of angiosperm species of the riparian vegetation of the Apodi-Mossoró River, Rio Grande do Norte, Brazil. Check List 9(4): 740–751, 2013.

PEREIRA, Magnum de Sousa. Manual técnico Conhecendo e produzindo sementes e mudas da caatinga Fortaleza: Associação Caatinga, 2011.

QUEIROZ, Jéssica Chapeleiro Peixoto. Respostas ecofisiológicas e bioquímicas do Pajeú (Triplaris gardneriana Wedd.) submetido ao déficit hídrico. 2018. 99 f. Dissertação (Mestrado em Ecologia e Conservação)–Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, SE, 2018. 

ROQUE, Alan de Araújo. Potencial de uso dos recursos vegetais em uma comunidade rural do semiárido do Rio Grande do Norte. 2009. 79 f. Dissertação (Mestrado em Meio Ambiente, Cultura e Desenvolvimento) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2009. 

SOUZA, Paulo Robson de. Padrões de distribuição e diversidade de espécies da mirmecofauna (hymenoptera, formicidae) de uma savana estépica (chaco) no município de Porto Murtinho, Mato Grosso do Sul,Brasil. Tese apresentada ao programa de Pós-graduação em Ecologia e Conservação da UFMS. Campo Grande,MS,abril de 2014.

segunda-feira, 29 de junho de 2020

Observando aves na cidade durante a quarentena: uma lista de aves para contemplar e ser mais feliz.

   O hábito de contemplar a natureza sempre foi importante para o bem-estar dos nossos antepassados. Atualmente durante esse período de isolamento social, tornou-se mais urgente a sua relevância para manutenção da nossa saúde, seja através da observação do crepúsculo, do céu estrelado, das flores dos jardins, do canto dos pássaros ou atividades afins. Acredito que a contemplação de aves de maneira espontânea, seja um hábito tão antigo quanto a própria existência da nossa espécie. Esta atividade nos proporciona bem-estar e admiração seja pela beleza dos cantos e cores das aves, pela variedade de formas e hábitos, pela riqueza de espécies ou especialmente pelo fato de poderem voar.
  Sendo assim, se você anda agitado dentro de casa como consequência desse isolamento social ou quer fazer uma atividade diferente, lhe convido a fazer uma pausa se desconectando do mundo virtual, indo até a janela ou quintal, principalmente ao amanhecer ou entardecer e apenas contemple o que a natureza reservou para você. Tenho certeza que ao menos uma ave tu verás ou ouvirás. 
   Como sugestão, se você é curioso assim como eu, aí vai uma breve lista de algumas espécies de aves que poderá observar na área urbana de nossas cidades. Se observares alguma espécie nativa diferente daquelas da lista, se possível comenta aí para a gente conhecê-la. 

Contemple, conecte-se a natureza para ser mais feliz!

Uma breve lista das aves nativas comuns na área urbana de nossas cidades:

1- Bem-te-vi (Pitangus sulphuratus)

sexta-feira, 12 de junho de 2020

Canário-do-mato, ave de canto melodioso e bem característico

Nomenclatura e classificação científica


   Ave conhecida popularmente como Canário-do-mato(NVT), Canário-do-chão, Canário-de-chapada, Pula-pula-amarelo e Agulha-de-garganta-branca, entretanto seu nome científico é único, Myiothlypis flaveola Baird, 1865 [Sinônimo: Basileuterus flaveolus]. Pertence a família Parulidae, da qual também fazem parte por exemplo, a Mariquita(Setophaga pitiayumi) e o Pula-pula(Basileuterus culicivorus). Existem duas subespécies reconhecidas atualmente, Myiothlypis flaveola pallidirostris (Oren, 1985) e Myiothlypis flaveola flaveola (S. F. Baird, 1865), sendo esta a que ocorre no Brasil.

Características do Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola)


  O Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola) quando na fase adulta alcança cerca de 14 cm de comprimento total e peso médio de 16 gramas. De maneira geral sua plumagem apresenta coloração amarela, mas o dorso, asas e cauda possui cor verde-oliváceo; enquanto que o bico é preto com mandíbula mais clara e os tarsos são amarelados e compridos. Além disso, possui uma listra escura que passa pelos olhos que contrasta com a listra superciliar amarela.

Aspectos biológicos do Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola)


   Deslocando-se ativamente sobre a vegetação ou diretamente no solo da floresta, essa espécie alimenta-se de pequenos animais artrópodes como alguns insetos, tendo portanto uma dieta essencialmente insetívora. M. flaveola canta praticamente durante o ano inteiro no interior das matas, sendo seu canto bem reconhecível por ser bem melodioso,rítmico e intenso, destacando-se onde é ouvido. É considerada uma espécie bastante territorialista e se reproduz geralmente de julho a dezembro.  Para ouvir o canto do Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola) clica no link e aperta play https://www.xeno-canto.org/567786

Habitat do Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola)


   O Canário-do-mato(M. flaveola) é espécie residente e depende da existência de ambientes florestais para viver, habitando no estrato inferior geralmente sobre o solo ou sobre a vegetação próxima a ele, em clareiras arbustivas de matas mais secas, restingas, cerradões, caatinga, matas ribeirinhas e ecossistemas semelhantes numa altitude de até 1000 metros. 

Distribuição geográfica do Canário-do-mato(Myiothlypis flaveola)


  M. flaveola apresenta considerável distribuição geográfica na América do Sul, ocorrendo na Argentina, Bolívia, Brasil, Colômbia, Guiana, Paraguai e Venezuela. Em território brasileiro sua distribuição é ampla, ocorrendo em todas as regiões do país. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Leste Potiguar, Agreste Potiguar e Oeste Potiguar. Ela atualmente não está ameaçada de extinção em nível global e também em nível nacional, mas como toda ave dependente da existência de florestas, o Canário-do-mato(M. flaveola) sofre ameaça com os desmatamentos nas regiões onde ocorre.

Referências 

ANTAS, Paulo de Tarso Zuquim. Basileuterus flaveolus. SESC - Guia de Aves do Pantanal. disponível em http://www.avespantanal.com.br/paginas/index.htm acessado em 11 de junho de 2020.

BIRDLIFE INTERNATIONAL. 2018. Myiothlypis flaveola. The IUCN Red List of Threatened Species 2018: e.T22722038A132149900. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T22722038A132149900.en. Downloaded on 07 June 2020.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

GODOYI , Fernando & Gabriel,Igor V. de Araujo. Provável híbrido entre Myiothlypis flaveola (Baird, 1865) e M. leucophrys (Pelzeln, 1868) (Passeriformes: Parulidae). 

LAGOS, Adriano Rodrigues  ... [et al.] . Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro : FURNAS, 2018. 

LIMA, Pedro Cerqueira. Aves do litoral norte da Bahia. 1 ed. – Bahia: AO, 2006.

Myiothlypis flaveola S.F.Baird, 1865 in GBIF Secretariat (2019). GBIF Backbone Taxonomy. Checklist dataset https://doi.org/10.15468/39omei accessed via GBIF.org on 2020-06-11.

PERLO,Ber Van. A field guide to the birds of Brazil. Oxford University Press,2009. 

PIACENTINI, V. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 23, n. 2, p. 91-298, 2015. 

PIACENTINI VQ,Aleixo ALP,Agne CEQ,Maurício GN,Pacheco JF,Bravo G,Brito GRR,Naka LN,Olmos F,Posso S,Silveira LF,Betini G,Carrano E,Franz I,Lees A,Lima L,Pioli D,Schunck F,Amaral FR,Bencke GA,Cohn-Haft M,Figueiredo LF,Straube F,Césari E. 2020. Parulidae in Catálogo Taxonômico da Fauna do Brasil. PNUD. Disponível em: <http://fauna.jbrj.gov.br/fauna/faunadobrasil/136654>. Acesso em: 12 Jun. 2020.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001. 863p.

SILVA, M. da et al. Aves de treze áreas de caatinga no Rio Grande do Norte, Brasil,. Revista Brasileira de Ornitologia. n.20, p.312-328, 2012.

SILVA, J.M.C.; SOUZA, M.A.; BIEBER, A.G.D. & CARLOS, C.J. 2003. Aves da Caatinga: status, uso do hábitat e sensitividade. In: LEAL, I.R; TABARELLI, M. & SILVA, J.M.C. (eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga: Recife, Ed. Universitária da UFPE.

SOUZA, Francisco V.; Aves da Mata do Pilão e entorno, Espírito Santo,RN,Brasil. 15/09/2019. Disponível em: https://www.taxeus.com.br/lista/13671 Acesso em 06 de junho de 2020.

domingo, 17 de maio de 2020

Louco Plumbago scandens L. uma planta nativa tóxica

   Planta conhecida popularmente como Louco, Louro, Folha-de-louro, Erva-do-diabo, Queimadura,  Jasmim azul das restingas, Caataia, Caápomonga ou Pega-pinto, entretanto seu nome científico é único, Plumbago scandens L.. Pertence a família Plumbaginaceae. A origem do nome popular Louco deve-se ao fato de que "os curandeiros aplicam  sinapismos das folhas na nuca dos insanos"(p. 323,Braga,1976).

  Essa espécie apresenta porte herbáceo até subarbustivo variando de 50 cm a 1,5 m de altura. Suas flores alvas são muito visitadas por borboletas e mariposas que são seus polinizadores. Ela é perene e encontrada em solos arenosos ou argilosos na restinga, caatinga, áreas alteradas, campinarana, capões e em trilhas na mata. 
   De acordo com a literatura na medicina popular(não recomendamos seu uso), Louco(Plumbago scandens) é citada como tendo propriedades  analgésicas e no tratamento de problemas estomacais, ressaca alcoólica e má digestão. No entanto ela é classificada como uma planta tóxica para bovinos e caprinos( o que sugere que deve ser para o homem também), sendo assim é necessário ter o cuidado de isolar esses animais em áreas onde não se encontre tal planta, evitando assim que os mesmos eventualmente possam ingeri-la. Além disso, extratos das folhas e raízes dessa planta apresentam certo grau de toxicidade, sendo empregadas tradicionalmente na destruição de verrugas.

   P. scandens apresenta ampla distribuição nas Américas, sendo uma espécie nativa encontrada no Brasil nos Domínios Fitogeográficos  da Caatinga, Mata Atlântica e Amazônia. Ela ocorre nas seguintes regiões e respectivos estados brasileiros: Norte (Amazonas, Pará), Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe), Centro-Oeste (Mato Grosso do Sul, Mato Grosso) e Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo). Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie em todas mesorregiões do estado, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências

Bezerra,Cícero Wanderlô Casimiro(2011). Plantas tóxicas do Nordeste e plantas tóxicas para ruminantes e equídeos da microrregião do Cariri Cearense. Dissertação (Mestrado). UFCG,Patos,PB.

Braga,Renato. Plantas do nordeste,especialmente do Ceará. Fortaleza:coleção mossoroense-volume XLII,1976. 

Carneiro,F. M.; Silva, M. J. P.; Borges ,L.L.; Albernaz , L. C. & Costa, J. D. P.. Tendências dos Estudos com Plantas Medicinais no Brasil. Revista Sapiência: sociedade, saberes e práticas educacionais – UEG/Câmpus de Iporá, v.3, n. 2, p.44-75 – jul/dez 2014.

Embrapa. Plantas no Pantanal tóxicas para bovinos.  Disponível em: http://old.cnpgc.embrapa.br/publicacoes/livros/plantastoxicas/20louco.html Acesso em 17 de maio de 2020.

Funez, L.A. Plumbaginaceae in Flora do Brasil 2020 em construção. Jardim Botânico do Rio de Janeiro.Disponível em: <http://reflora.jbrj.gov.br/reflora/floradobrasil/FB12940>. Acesso em: 17 mai. 2020

Moura, Edweslley Otaviano de(2017). Relações florísticas e ambientais no litoral semiárido do Rio Grande do Norte, Brasil. Dissertação (Mestrado). UFRN,Natal,RN. 

domingo, 3 de maio de 2020

Tico-tico Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776) uma ave de canto melodioso

tico-tico pássaro do brasil
   Ave conhecida popularmente como Tico-tico ou Jesus-meu-deus(em Alagoas), entretanto seu nome científico é único, Zonotrichia capensis (Statius Muller, 1776). Esse pássaro pertence a família Passerellidae.

   Um indivíduo adulto de Tico-tico(Zonotrichia capensis) pode variar de 11 a 15cm de comprimento total, enquanto que o peso oscila entre 18 e 25 gramas. Para leigos ele seria confundido com uma pardal, mas é outra espécie e apresenta algumas características marcantes, a saber: a cabeça com topete de cor acinzentada com estrias(faixas) pretas e na base da nuca um colar ferrugíneo, menos evidente na fêmea. De maneira geral a região ventral e peito é esbranquiçado enquanto a dorsal é olivácea. Porém um indivíduo jovem não tem as estrias pretas na cabeça, nem a nódoa preta ao lado do pescoço e o colar ferrugíneo, mas apresenta manchinhas negras no peito (Sick,2001).

 Zonotrichia capensis é considerado predominantemente uma espécie granívora, ou seja, alimenta-se de grãos-sementes, mas também inclui em sua dieta brotos, frutos e eventualmente pequenos artrópodes como animais do grupo dos insetos.
   O ninho dessa espécie lembra um pequeno cesto feito com raízes e capins, é nele que a fêmea durante o período reprodutivo põe de 2 a 5 ovos, estes são verde-amarelados manchados de tons avermelhados. Eles são incubados durante cerca de 14 dias e depois de 16 a 22 dias de nascimento os filhotes saem do ninho. Geralmente é "parasitado" pelo Vira-bosta(Molothrus bonariensis) que retira os ovos do Tico-tico do ninho dele e põe os seus, fazendo com que Tico-tico(Z. capensis) incube os ovos daquele.

   O Tico-tico(Z. capensis) habita uma grande variedade de ambientes abertos ou semi-abertos desde o nível do mar até a altitude 4600m, tais como: florestas secas como a caatinga arbustiva, cerrado, restingas, florestas úmidas, áreas urbanas arborizadas, áreas de pastagens e campos de cultura. Sua principal vocalização é muito melodiosa e bastante apreciada pelo homem, mas ela apresenta algumas variações curiosas em seu repertório vocal, incluindo por exemplo um canto noturno e canto de susto.
tico-tico cantando pássaro de canto bonito
   Z. capensis  apresenta ampla distribuição geográfica na região neotropical, ocorrendo naturalmente nos seguintes países: Argentina,Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, República Dominicana, Equador, El Salvador, Guiana Francesa, Guatemala, Guiana, Haiti, Honduras, México, Panamá, Paraguai, Peru, Suriname e Venezuela.

   É espécie residente no Brasil, estando presente em todo país, exceto em parte da Amazônia. Atualmente a espécie não está ameaçada de extinção em nível global e também em nível nacional. Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte, tenho observado essa espécie nas mesorregiões Agreste Potiguar, Central Potiguar e Oeste Potiguar.

Referências
Adriano Rodrigues Lagos ... [et al.] . Guia de aves: da área de influência da Usina Hidrelétrica de Batalha. Rio de Janeiro : FURNAS, 2018.

Ana Busi et al. Diferenças morfológicas em um grupo de copetos ( Zonotrichia capensis , Emberizidae) em diferentes altitudes nos Andes tropicais. Biota Neotrop. vol.20 no.2 Campinas 2020 Epub 21 de fevereiro de 2020

BirdLife International. 2018. Zonotrichia capensis . A Lista Vermelha da IUCN de Espécies Ameaçadas 2018: e.T22721079A132142827. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2018-2.RLTS.T22721079A132142827.en . Transferido em 03 de maio de 2020.

ICMBio -Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. 2018. Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção. Brasília: ICMBio. 4162 p.

LIMA, Pedro Cerqueira. Aves do litoral norte da Bahia. 1 ed. – Bahia: AO, 2006.

PIACENTINI, V. et al. Annotated checklist of the birds of Brazil by the Brazilian Ornithological Records Committee / Lista comentada das aves do Brasil pelo Comitê Brasileiro de Registros Ornitológicos. Revista Brasileira de Ornitologia, v. 23, n. 2, p. 91-298, 2015.

PICHORIM, Mauro et al. Guia de Aves da Estação Ecológica do Seridó. Natal: Caule de Papiro, 2016.

SICK, H. Ornitologia Brasileira. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 2001. 863p.

SILVA, M. da et al. Aves de treze áreas de caatinga no Rio Grande do Norte, Brasil,. Revista Brasileira de Ornitologia. n.20, p.312-328, 2012.

SILVA, J.M.C.; SOUZA, M.A.; BIEBER, A.G.D. & CARLOS, C.J. 2003. Aves da Caatinga: status, uso do hábitat e sensitividade. In: LEAL, I.R; TABARELLI, M. & SILVA, J.M.C. (eds.). Ecologia e Conservação da Caatinga: Recife, Ed. Universitária da UFPE.

SOUZA, Francisco V. & DANTAS,J.; Aves em Equador,RN,Brasil. 11 e 12 de maio de 2019.  Disponível em: https://www.taxeus.com.br/lista/13520 Acesso em 03 de maio de 2020.

domingo, 19 de abril de 2020

Cabeça branca Mitracarpus strigosus (Thunb.) P.L.R. Moraes, De Smedt & Hjertson

FLORA DO RN
Cabeça branca( Mitracarpus strigosus) fotografada em excursão na Serra do Cuó,Campo Grande,RN. 
Det.: J. Jardim, set.2013.
    A Cabeça branca(Mitracarpus strigosus) é uma espécie nativa do Brasil e pertence a família Rubiaceae, da qual também fazem parte por exemplo, o Jenipapo(Genipa americana), a Angélica(Guettarda platypoda) e Mata-rato (Psychotria bracteocardia).
   Ela apresenta porte herbáceo ou até subarbustiva, tendo grande variação de tamanho entre 10cm e 100cm de altura. Mitracarpus strigosus desenvolve-se bem em ambiente aberto e exposto a luz solar, principalmente nos solos arenosos, sendo encontrada em restingas, tabuleiros, campos, chapadas, dunas, savana, capoeira, em ambientes onde há plantações e bordas de estradas ou trilhas. Ela habita esses ambientes desde o nível do mar até 930 m de altitude onde pode florescer e frutificar durante o ano inteiro.
   Mitracarpus strigosus tem sua ocorrência confirmada em alguns países da América do Sul a saber: na Guiana, Suriname, Guiana Francesa e Brasil. Neste país é encontrada nos biomas Mata Atlântica,Caatinga, Amazônia e Cerrado em diferentes formações vegetais, estando distribuída nas seguintes regiões e respectivos estados brasileiros: Norte (Pará, Roraima) Nordeste (Alagoas, Bahia, Ceará, Maranhão, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Rio Grande do Norte, Sergipe) e Sudeste (Espírito Santo, Minas Gerais, Rio de Janeiro). Durante as minhas excursões pelo estado do Rio Grande do Norte tenho observado essa espécie em todas mesorregiões do estado, ou seja, tanto no domínio da Mata Atlântica como na Caatinga potiguar.

Referências
BOEIRA, Tianisa Prates. Spermacoceae (Rubiaceae) no Rio Grande do Norte, Brasil. 2016. 87f. Dissertação (Mestrado em Sistemática e Evolução) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

Daniela Freu de Figueiredo Mól. Rubiaceae em um Remanescente de Floresta Atlântica no Rio Grande Do Norte, Brasil. Programa de Pós-Graduação em Ciências Biológicas da UFRN, Natal, RN,2010.

Organizador Rafaela Campostrini Forzza... et al. Catálogo de plantas e fungos do Brasil, volume 2. Rio de Janeiro : Andrea Jakobsson Estúdio : Instituto de Pesquisas Jardim Botânico do Rio de Janeiro, 2010.

Souza,Elnatan Bezerra de. Estudos Sistemáticos em Mitracarpus (Rubiaceae - Spermacoceae) com ênfase em espécies brasileiras. Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Botânica da UEFS. Feira de Santana,Bahia,2008.

domingo, 5 de abril de 2020

Macaco-prego-galego Sapajus flavius (Schreber, 1774) uma espécie muito ameaçada de extinção

primatas da mata atlântica
Macaco-prego-galego(Sapajus flavius) observado em 2019 na RPPN Mata Estrela,Baía Formosa,RN.

Nomenclatura e classificação científica

   Animal conhecido popularmente como Macaco-prego-galego, Macaco-prego-dourado, Macaco-galego, Macaco-prego e inicialmente chamado Caitaia(nome indígena) pelo naturalista alemão Georg Marcgrave (1648). Entretanto seu nome científico atualmente válido é único, Sapajus flavius (Schreber, 1774). Mamífero primata pertencente a família Cebidae, da qual também faz parte por exemplo, o Macaco-prego(Sapajus libidinosus).
   No Rio Grande do Norte além dessas duas espécies  de macacos, ainda temos também o ameaçado Guariba(Alouatta belzebul L.) e o Sagui-de-tufos-brancos(Callithrix jacchus).

Características do Macaco-prego-galego  Sapajus flavius (Schreber, 1774)

   O Macaco-prego-galego(Sapajus flavius) é considerado espécie de médio porte, onde um indivíduo adulto de maneira geral apresenta em média 36cm de comprimento(cabeça-corpo) e cauda de aproximadamente 44cm, ou seja, comprimento total de 80cm. Seu peso pode variar de 1.800 a 3.100 gramas, sendo os indivíduos machos maiores. "A pelagem da testa e topo da cabeça, “capuz”, possui os pelos curtos orientados para trás. A cabeça apresenta um perfil frontal arredondado, sem tufos ou cristas. A barba é amarela avermelhada e mede de 15 a 20 mm. A coloração da garganta, da testa e do topo da cabeça é amarela. A coloração da pelagem do corpo é amarelo dourado, o que fornece uma aparência bastante característica. A coloração do ventre é amarela avermelhada. As extremidades dos membros e da cauda são pouco mais escuras que o dorso e a lateral do corpo, contudo sem um contraste marcado. O lado interno das coxas e pernas é amarelho avermelhado (Feijó & Langguth,p. 44,2013)". 
Macaco-prego-galego(Sapajus flavius) observado na RPPN Mata Estrela,Baía Formosa,RN.

Aspectos biológicos do Macaco-prego-galego  Sapajus flavius (Schreber, 1774)

   Indivíduos machos do gênero Sapajus geralmente atingem a maturidade sexual aos 7 anos, porém as fêmeas variam de 4 a 5 anos. Seu sistema de acasalamento é do tipo poligâmico e o tempo de gestação vai de 5 a 6 meses, nascendo em média apenas um filhote. Animais do referido gênero são bem curiosos e muito ativos durante o dia na copa das árvores(mas também descem ao solo), apresentam uma dieta onívora, alimentando-se de partes de origem vegetal como por exemplo, folhas e frutos, atuando até como dispersores de sementes, mas também comem pequenos animais.

Habitat e distribuição geográfica do Macaco-prego-galego  Sapajus flavius (Schreber, 1774)

   O Macaco-prego-galego(Sapajus flavius) habita alguns poucos fragmentos de Mata Atlântica na região Nordeste do Brasil, nos estados do Rio Grande do Norte,Paraíba,Pernambuco e Alagoas. Sendo portanto uma espécie endêmica do Brasil e Mata Atlântica, fazendo parte do Centro de Endemismo Pernambuco. Mas também existem algumas áreas de Caatinga que estão sendo analisadas como prováveis locais onde a espécie também ocorra, inclusive aqui no RN. No Rio Grande do Norte a espécie foi confirmada inicialmente apenas na RPPN Senador Antônio Farias(Mata Estrela), porém eu já observei também um bando transitando do canavial para um fragmento de mata conhecido como Mata da Pituba, ambos no município de Baía Formosa. Dentro da sua área de distribuição a espécie tem ocorrência confirmada em cerca de 30 fragmentos florestais que fazem parte de áreas de proteção.
animal ameaçado de extinção
Macaco-prego-galego(Sapajus flavius) observado na Mata da Pituba,Baía Formosa,RN.

Ameaças e classificação do Macaco-prego-galego  Sapajus flavius (Schreber, 1774) como animal ameaçado de extinção

   Porém devido a falta de fiscalização dessas áreas que muitas das vezes estão isoladas, essas populações de S. flavius sofrem ameaças devido a destruição de seu habitat pela expansão de plantações de cana-de-açúcar, desmatamento para construções humana e ampliação de rodovias, extração ilegal de árvores, queimadas, além da caça. Tudo isso tem contribuído para redução populacional da espécie que tem sido estimada até recentemente em apenas 1.000 indivíduos. Estes compreendem pequenas populações de diferentes tamanhos , incluindo jovens e adultos que estão isolados pela fragmentação e perda de habitat. Por tudo isso a espécie S. flavius se encontra na lista vermelha da International Union for Conservation of Nature (IUCN, 2015) como criticamente ameaçada de extinção (CR), além disso, ela é classificada na Lista Oficial das Espécies da Fauna Brasileira Ameaçadas de Extinção  na categoria "Em Perigo(EN).

Referências
Bacalhao, M. B., Firmino, M. O., Siqueira, R. A., Ramalho, A. C., Cavalcante, T. A., Nery, T. F., et al. (2016). Descrição morfológica de duas espécies de Sapajus encontradas na Paraíba: S. libidinosus e o recém-redescoberto e já criticamente ameaçado S. flavius. Pesquisa Veterinária Brasileira, 36(4), 317-321.

DANTAS, Anne Karenine Bezerra da Penha. Caracterização da paisagem de Sapajus flavius (Primates, Cebidae) e Alouatta belzebul (Primates, Atelidae) na Mata Atlântica nordestina. 2016. 59f. Dissertação (Mestrado em Ecologia) - Centro de Biociências, Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2016.

de Oliveira, M.M., Boubli, J.-P. & Kierulff, M.C.M. 2015. Sapajus flavius. The IUCN Red List of Threatened Species 2015: e.T136253A70612549. https://dx.doi.org/10.2305/IUCN.UK.2015.RLTS.T136253A70612549.en. Downloaded on 04 April 2020.

FEIJÓ, A.; LANGGUTH A. Mamíferos de médio e grande porte do Nordeste do Brasil: distribuição e taxonomia, com descrição de novas espécies. Revista Nordestina de Biologia, v. 22, n. 1/2, p. 43-45, 2013.

Valença-Montenegro,M. M.; Bezerra ,B. M.; Martins, A. B.& Fialho ,M. de S. 2018. Sapajus flavius (Schreber, 1774). In: Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade. (Org.). Livro Vermelho da Fauna Brasileira Ameaçada de Extinção: Volume II - Mamíferos. Brasília, DF. ICMBio.  p. 268-271.